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A 19ª Conferência do Clima, promovida pela Organização das
Nações Unidas (ONU) e que acontece desde a segunda-feira 11, em
Varsóvia, tinha tudo para passar despercebida no noticiário. Isso porque
o encontro se dá, como se diz no futebol, apenas para cumprir tabela,
pois nenhum dos países envolvidos, incluindo o Brasil, esperava que
saísse dali qualquer decisão relevante. Mas a emergência pela busca por
soluções para reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa,
apontadas como vilãs do desequilíbrio climático, se fizeram sentir pelo
peso de uma tragédia.
Nº edição: 840 |
Economia |
14.NOV.13 - 20:30
| Atualizado em 04.12 - 09:20
Ecos do aquecimento global
Supertufão deixa um rastro de mortes e prejuízos nas Filipinas e lança luzes sobre a urgência de um acordo em torno de medidas para mitigar os agentes causadores da mudança climática
Por Rosenildo Gomes FERREIRA
Perda total: ventos de mais de 300 km/h praticamente riscaram do mapa a cidade de Tacloban
Dessa vez, as vítimas foram os países do Sudeste Asiático, em
particular as Filipinas. No arquipélago do Pacífico, o rastro de
destruição deixado pelo supertufão Haiyan, com ventos de 300 km/h,
resultou na morte de cerca de três mil pessoas, cinco milhões de
desabrigados e prejuízos estimados em US$ 14 bilhões. Parece pouco
diante das perdas de US$ 300 bilhões provocadas pelo terremoto seguido
por um tsunami que atingiu o Japão em 2011. Ou dos US$ 108 bilhões
impostos pelo furacão Katrina, que inundou a cidade de Nova Orleans em
2005. Contudo, trata-se de um volume de recursos que equivale a 5% do
PIB da frágil economia filipina.
A situação é tão delicada que o representante do país na
conferência, Naderev Sano, anunciou que entraria em greve de fome em
protesto contra a lentidão, especialmente dos países ricos, em chegar a
um acordo sobre a intensificação das medidas para combater o aquecimento
global. Diante desse quadro, fica uma questão: qual é a importância do
desmatamento e da poluição no agravamento da intensidade dessas
catástrofes? Para o diretor de políticas públicas da seção brasileira do
Greenpeace, Sergio Leitão, a relação é evidente. “Estudos científicos
indicam que os eventos extremos devem ocorrer com mais frequência em
virtude das mudanças climáticas”, afirmou. O último Boletim de Gases
Estufa, publicado pela ONU, mostra que a concentração de gases nocivos à
atmosfera está atingindo volume recorde.
Perigo fóssil: "Tufões começam aqui." A frase foi projetada por ativistas do Greenpeace
em torre de termelétrica a carvão na Polônia
“Este ano está pior que o ano passado”, disse Michel Jarraud,
secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), durante a
divulgação do estudo. “A cada ano que passa fica mais difícil lidar com a
situação.” Pelo lado econômico, a parte mais visível da conta
fica com as seguradoras, encarregadas do pagamento de apólices relativas
à proteção de bens imóveis e da indenização das famílias das vítimas.
Apenas no primeiro semestre do ano, essa conta atingiu US$ 20 bilhões,
em termos globais, dos quais US$ 17 bilhões se referem a catástrofes
naturais. Isso, porém, é apenas a ponta do iceberg. Ao adicionarmos a
essa conta os prejuízos econômicos totais, incluindo os danos à
infraestrutura e outros eventos não cobertos por apólices, o valor sobe
para US$ 56 bilhões, de acordo com a empresa de resseguros Swiss Re.
Os efeitos são ainda mais nefastos em países com estruturas
frágeis, como as Filipinas, ou naqueles que cresceram sem um plano
estruturado, como é o caso do Brasil. Estudos da Secretaria de Assuntos
Estratégicos (SAE) indicam que a urbanização, no século passado, foi a
causadora da destruição de 90% da Mata Atlântica e de 80% da cobertura
florestal do Sul do País. “As catástrofes seguem uma lógica inversamente
proporcional à renda das pessoas”, afirma Leitão, do Greenpeace.
“Quanto mais pobres, mais afetados.” Um exemplo disso foram os estragos
causados pelas chuvas torrenciais na região serrana do Rio de Janeiro,
em 2011.
Para ajudar a mitigar os efeitos das mudanças climáticas, o
representante brasileiro em Varsóvia, Sergio Margulis, subsecretário de
Desenvolvimento Sustentável da SAE, defendeu a adoção de ações mais
efetivas por parte dos 195 países que integram a ONU. A ideia é que
todos devem ajudar os países que necessitam de medidas compensatórias
aos estragos causados pelo clima. Mesmo com a força devastadora do
supertufão Haiyan, ninguém espera que no dia 22, data de encerramento da
conferência, seja elaborado um acordo capaz de acomodar as ambições
antagônicas de Estados Unidos, Rússia e China, fortemente dependentes de
petróleo e carvão, apontados como os maiores vilões do efeito estufa, e
das nações emergentes.
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