29/11/2013 12h44
- Atualizado em
29/11/2013 12h44
Com seca, reservatórios ficam vazios no Sertão de Pernambuco
Parte da população depende exclusivamente de carros-pipa.
Cidades estão em situação de emergência devido à estiagem.
Açude Nilo Coelho, em Terra Nova, está vazio há dois anos (Foto: Gabriely Souza/arquivo pessoal)
Os reservatórios do Sertão de Pernambuco estão praticamente secos. Com a
estiagem que atinge 2/3 dos municípios do estado, parte da população
tem dependido exclusivamente da ajuda de carros-pipa. Em alguns locais,
como Terra Nova, o açude que abastece a cidade está vazio há dois anos.Nem mesmo a população que mora às margens do Rio São Francisco tem abastecimento de água regular. Em Petrolina, o açude de Vira Beijú, com capacidade para armazenar 11,8 milhões de metros cúbicos, está totalmente seco. Com isso, as comunidades rurais de Barra da Jurema, Cruz do Valério, Viração, Primazia, Riacho e Cacimba Velha têm contado com o abastecimento exclusivo por carros-pipa.
Barragem do Chapéu está com 7,4% da
capacidade (Foto: Ângelo Carvalho/Arquivo
pessoal)
Além do açude de Vira Beijú, Cleidimar de Sousa, de 48 anos, moradora
da comunidade de Barra da Jurema, diz que o açude de Cruz de Salinas,
que tem capacidade para 4 milhões de metros cúbicos, também está seco na
região. “Onde não passa água da adutora do canal do Rio Pontal, todo o
sistema de abastecimento está sendo feito através de carros-pipa.
Recebemos água uma vez por mês e essa quantidade abastece as cisternas
da região. Mas esse abastecimento é feito de forma precária. Há três
anos não temos plantações. Tínhamos milho e feijão. Muitos animais
morreram e as roças estão sem produção”, diz.capacidade (Foto: Ângelo Carvalho/Arquivo
pessoal)
Na área, a única barragem que ainda conta com água é a de Atalho, com capacidade para 1,5 milhão de metros cúbicos. Mas a água é salgada e serve apenas para consumo animal.
Na comunidade do Jatobá, a população sobrevive graças a cisternas de concreto, construídas pelo governo do estado, ou de plástico, doadas pelo Ministério da Integração Nacional, que são usadas para armazenar água para pessoas e animais.
Quando o carro-pipa não chega, no entanto, é preciso comprar água. Isso ocorre se o abastecimento é suspenso por falta de recursos, como ocorrido em 2011. “A gente agora não precisa comprar, mas, quando precisa, o preço da carga que vem da cidade custa, em média, R$ 160”, diz Antônio João Alves, de 68 anos.
Atualmente, a população de Petrolina conta com duas operações de abastecimento. A Operação Pipa é coordenada pelo Exército, com recursos do Ministério da Integração Nacional. O IPA (Instituto Agronômico de Pernambuco), ligado à Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária do Estado, também possui caminhões.
Medidor mostra baixo nível de água do açude da
Barragem do Chapéu (Foto: Ângelo Carvalho/
Arquivo pessoal)
Já a Prefeitura não utiliza mais os 20 carros usados para assistir as
comunidades. O secretário municipal de Irrigação, Otávio Alves de
Carvalho, diz que os veículos foram retirados porque os programas dos
governos estadual e federal são suficientes para o abastecimento.Barragem do Chapéu (Foto: Ângelo Carvalho/
Arquivo pessoal)
Outras cidades
O diretor de extensão rural do IPA, Marcos Jerônimo, diz que, além de Petrolina, outros cinco municípios do Sertão do São Francisco decretaram situação de emergência – Dormentes, Orocó, Santa Maria da Boa Vista, Lagoa Grande e Afrânio. “Afrânio e Dormentes são as cidades que enfrentam maiores dificuldades. Elas não estão às margens Rio São Francisco e não têm reservatórios com capacidade de abastecer as cidades.”
Em Parnamirim, os dois reservatórios que abastecem a cidade e a área rural estão em colapso. Isso acontece quando o nível de água está muito abaixo da comporta da barragem. O açude de Entremontes, com capacidade de 339,33 milhões de metros cúbicos, está com apenas 1,5% do total. A barragem do Chapéu, que pode armazenar até 188 milhões de metros cúbicos, está com 7,4% da capacidade, de acordo a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac).
Vilma Freire Agra, de 67 anos, que mora na Fazenda Estoque, diz que o reservatório da propriedade está vazio porque depende da água da barragem do Chapéu. “Há dois meses as comportas não são abertas para economizar água na barragem. Por isso, os açudes menores ficam todos secos”, reclama.
Vilma Freire Agra, dona da Fazenda Estoque,
dentro de barragem completamente seca (Foto:
Ângelo Carvalho/Arquivo pessoal)
Em Terra Nova, a barragem Nilo Coelho, a maior do município, tem
capacidade para armazenar 22,7 milhões de metros cúbicos, mas está vazia
há dois anos. Para perenizar o açude, a Prefeitura diz que a solução é a
transposição do Rio São Francisco, cujas obras estão atrasadas.dentro de barragem completamente seca (Foto:
Ângelo Carvalho/Arquivo pessoal)
Em Cabrobó, todos os reservatórios estão vazios há um ano. O maior deles é o Manoel Rodrigues, com capacidade para 4,8 milhões de metros cúbicos. Em Salgueiro, o principal reservatório do município é o açude Boa Vista, que pode armazenar 16,45 milhões de metros cúbicos e conta hoje com cerca de 1/3 da capacidade.
Já em Araripina, os reservatórios vêm sofrendo baixa no volume desde 2011. O principal deles, a barragem Lagoa do Barro, com capacidade para armazenar 23 milhões de metros cúbicos, está com 6 milhões. A barragem do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), também dentro do município, com capacidade para 4 milhões de metros cúbicos, está completamente vazia.
Segundo o analista de recursos hídricos da Apac, Roni Melo, o nível dos reservatórios do Sertão têm caído em razão da falta de precipitação. De acordo com os meteorologistas da Apac, de janeiro a abril de 2012, o volume de chuva ficou 68% abaixo da média. A situação se repetiu neste ano: o volume ficou 66% abaixo da média.
A Apac não faz o monitoramento de todos os açudes e barragens do estado. Mas, em 50 deles, uma pessoa é contratada pelo governo para auxiliar no trabalho. Outros 40 reservatórios são monitorados por computador automaticamente, de hora em hora, com uma plataforma de coleta de dados, que mede o nível de água.
Roni Melo diz que, quando eles estão secos, o conselhos estadual e os municipais discutem com as prefeituras medidas a serem adotadas para auxiliar a população. “Em alguns casos, quando ainda resta pouca água, a exemplo do açude do Chapéu em Parnamirim, é autorizada a captação com bomba flutuante ou carro-pipa.”
Animais procuram alimento em meio à seca
(Foto: Reprodução/TV Grande Rio)
Prejuízos para os criadores de animais(Foto: Reprodução/TV Grande Rio)
A seca prolongada tem causado também prejuízos aos criadores na região do Vale do Rio São Francisco. Muitos estão vendendo parte do rebanho de caprinos e ovinos, para conseguir recursos para comprar alimentos na tentativa de não perder todo o gado.
Segundo o responsável técnico da Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos do Sertão do São Francisco, Zilton Alves, as perdas de bovinos chegam a 90%, em média, na região. “Perdemos cerca de 60% de ovinos e 50% dos caprinos. Os produtores locais têm praticamente 10% do que tinham aqui na região antes dos dois anos de seca. Não sei se conseguirão resistir. Eles estão chegando no limite”, conta.
Falta animal até para a comercialização. A maior parte de caprinos para abate tem saído de outras regiões. Nos frigoríficos de Petrolina, o preço da carne de carneiro subiu 21,42% o quilo nos últimos três meses.
Cisternas
No Sertão, a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), vinculada ao Ministério da Integração Nacional, instalou nos últimos dois anos 15.400 cisternas plásticas para atender famílias em área de seca. Para 2013, a estimativa da companhia é instalar 13 mil novas cisternas.
Reservatórios vazios deixam cidades em situação de emergência (Foto: Reprodução/TV Grande Rio)
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