OPINIÃO
Será realizada em Paris no final do ano que vem uma
grande conferência internacional (a COP 21), cuja agenda é chegar a um
acordo global sobre mudanças climáticas, para entrar em vigor em 2020.
Esse novo acordo deverá substituir o Protocolo de Kyoto, de 1997, que
teve resultados decepcionantes.
O objetivo do Protocolo de Kyoto era reduzir as emissões de gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas. Mas adotou uma estratégia que não deu certo: os países em desenvolvimento - incluindo o Brasil, a China e muitos outros - foram desobrigados de reduzir suas emissões com a justificativa de que fazê-lo prejudicaria suas perspectivas de desenvolvimento. Além disso, os Estados Unidos mantiveram-se fora do protocolo. Como resultado, as emissões de gases-estufa, em lugar de decrescer, aumentaram cerca de 50% em relação a 1990.
A conferência de Paris em 2015 está programada para adotar um novo protocolo ou tratado abrangente, incluindo todos os países.
As grandes esperanças e o entusiasmo que levaram à adoção da Convenção do Clima em 1992, no Rio de Janeiro (Rio-92), se dissiparam, como ficou evidente na Rio+20, em 2012. Isso se deve em boa parte ao governo brasileiro, que abandonou a liderança que exerceu em 1992 para exercer o papel de "coveiro" em 2012.
É realista esperar resultados concretos da conferência de Paris? Para responder a essa pergunta é preciso lembrar que guerras se vencem nos campos de batalha, e não nas conferências de paz que se reúnem ao fim delas. Batalhas estão ocorrendo em muitos países para levar os governos a adotar medidas que reduzam a poluição em geral e as emissões de gases de efeito estufa em particular.
E elas estão ocorrendo por questões de interesse próprio, principalmente nos dois maiores emissores: Estados Unidos e China. No primeiro deles, em razão dos avanços tecnológicos e de aumentos de produtividade que, na prática, reduzem tais emissões. Na China o problema é devido à necessidade urgente de melhorar a qualidade do ar, que está sufocando suas cidades. No país asiático, a produção de energia elétrica com a queima de carvão - que é o pior dos combustíveis, tanto do ponto de vista ambiental quanto de eficiência - e o aumento do uso de automóveis que utilizam gasolina são a origem da poluição.
Estados Unidos e China, juntos, representam mais de 50% das emissões de gases de efeito estufa e a eles se junta a União Europeia, onde a França pretende desempenhar papel de liderança, como tem declarado o presidente François Hollande. Na sua recente visita aos Estados Unidos, Hollande declarou que "o objetivo da conferência não é apenas encher os hotéis de Paris, mas o de atingir um acordo global, porque estamos em perigo".
O recente episódio da capital francesa envolta em poluição - causada por automóveis e caminhões -, obrigando o governo a adotar rodízio de carros, vai reforçar a determinação de Hollande, que é a de reduzir as emissões em 20% - abaixo do nível de 1990 - até 2020, aumentando a participação de fontes renováveis de energia na França em até 20%.
Diante desse quadro, os países em desenvolvimento (entre os quais o Brasil) que até agora não assumiram obrigações de redução de emissões vão ser submetidos a fortes pressões para participarem do esforço global. A estratégia desses países - agrupados no assim chamado Grupo dos 77 - foi sempre a de adiar assumir responsabilidades em nome de vagas ideias sobre equidade e "responsabilidades históricas" dos países que se industrializaram no fim do século 19 e meados do século 20.
Os países industrializados podem ser responsabilizados por muitos dos males que afligem hoje a humanidade, como a herança colonial, a distribuição desigual da renda per capita e tantos outros. Tentar, todavia, compensar esses males usando a Convenção do Clima para isentar os países em desenvolvimento de esforços para evitar novas catástrofes, como as causadas por mudanças climáticas, tem um forte componente de ingenuidade e de falta de realismo.
Por essa razão, as conferências preparatórias para a grande conferência de Paris tornaram-se campos férteis para a retórica, a advocacia e até o turismo. Discute-se agora se decisões tomadas anteriormente, como a de que "todos os países" devem contribuir para reduzir as emissões, violam a Convenção do Clima, a qual dividiu os países em duas categorias: a dos industrializados, que deveriam reduzir suas emissões, e a dos países em desenvolvimento, que seriam isentos dessas obrigações.
A Convenção do Clima foi adotada em 1992 - há 22 anos, portanto - e muitas coisas mudaram desde então. Uma delas é a contribuição da China, que já supera as emissões dos Estados Unidos.
Os lideres políticos entenderam isso muito bem quando tentaram em Copenhague, em 2009, resolver esses problemas. Até o então presidente Lula concordou em apresentar "metas voluntárias" de reduções, que são questionáveis do ponto de vista técnico, mas politicamente representam um avanço porque são o reconhecimento de que os países em desenvolvimento também têm de contribuir.
O surpreendente é que desde então a diplomacia brasileira parece ter esquecido o que os chefes de Estado aceitaram em Copenhague e hoje se associa às teses mais retrógradas em discussão.
Se há uma área em que o Brasil poderia liderar e se destacar no cenário internacional, é a de mudanças climáticas. Isso ocorreu nos preparativos da Conferência do Rio em 1992. Essa liderança, contudo, foi perdida, como se viu na Rio+20, e não será recuperada se até 2015 a posição brasileira não mudar.
PROFESSOR EMÉRITO DA
USP, FOI SECRETÁRIO DO
MEIO AMBIENTE DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA DURANTE
AS NEGOCIAÇÕES DA RIO-92
21/04/2014 14h20 - Atualizado em 21/04/2014 14h39
Nasa vai criar mosaico de 'selfies' para celebrar Dia da Terra, nesta terça
Fotos de redes sociais com hashtag #GlobalSelfie serão compiladas.
A conferência de 2015 sobre o clima
21 de abril de 2014 | 2h 06
JOSÉ GOLDEMBERG - O Estado de S.Paulo
O objetivo do Protocolo de Kyoto era reduzir as emissões de gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas. Mas adotou uma estratégia que não deu certo: os países em desenvolvimento - incluindo o Brasil, a China e muitos outros - foram desobrigados de reduzir suas emissões com a justificativa de que fazê-lo prejudicaria suas perspectivas de desenvolvimento. Além disso, os Estados Unidos mantiveram-se fora do protocolo. Como resultado, as emissões de gases-estufa, em lugar de decrescer, aumentaram cerca de 50% em relação a 1990.
A conferência de Paris em 2015 está programada para adotar um novo protocolo ou tratado abrangente, incluindo todos os países.
As grandes esperanças e o entusiasmo que levaram à adoção da Convenção do Clima em 1992, no Rio de Janeiro (Rio-92), se dissiparam, como ficou evidente na Rio+20, em 2012. Isso se deve em boa parte ao governo brasileiro, que abandonou a liderança que exerceu em 1992 para exercer o papel de "coveiro" em 2012.
É realista esperar resultados concretos da conferência de Paris? Para responder a essa pergunta é preciso lembrar que guerras se vencem nos campos de batalha, e não nas conferências de paz que se reúnem ao fim delas. Batalhas estão ocorrendo em muitos países para levar os governos a adotar medidas que reduzam a poluição em geral e as emissões de gases de efeito estufa em particular.
E elas estão ocorrendo por questões de interesse próprio, principalmente nos dois maiores emissores: Estados Unidos e China. No primeiro deles, em razão dos avanços tecnológicos e de aumentos de produtividade que, na prática, reduzem tais emissões. Na China o problema é devido à necessidade urgente de melhorar a qualidade do ar, que está sufocando suas cidades. No país asiático, a produção de energia elétrica com a queima de carvão - que é o pior dos combustíveis, tanto do ponto de vista ambiental quanto de eficiência - e o aumento do uso de automóveis que utilizam gasolina são a origem da poluição.
Estados Unidos e China, juntos, representam mais de 50% das emissões de gases de efeito estufa e a eles se junta a União Europeia, onde a França pretende desempenhar papel de liderança, como tem declarado o presidente François Hollande. Na sua recente visita aos Estados Unidos, Hollande declarou que "o objetivo da conferência não é apenas encher os hotéis de Paris, mas o de atingir um acordo global, porque estamos em perigo".
O recente episódio da capital francesa envolta em poluição - causada por automóveis e caminhões -, obrigando o governo a adotar rodízio de carros, vai reforçar a determinação de Hollande, que é a de reduzir as emissões em 20% - abaixo do nível de 1990 - até 2020, aumentando a participação de fontes renováveis de energia na França em até 20%.
Diante desse quadro, os países em desenvolvimento (entre os quais o Brasil) que até agora não assumiram obrigações de redução de emissões vão ser submetidos a fortes pressões para participarem do esforço global. A estratégia desses países - agrupados no assim chamado Grupo dos 77 - foi sempre a de adiar assumir responsabilidades em nome de vagas ideias sobre equidade e "responsabilidades históricas" dos países que se industrializaram no fim do século 19 e meados do século 20.
Os países industrializados podem ser responsabilizados por muitos dos males que afligem hoje a humanidade, como a herança colonial, a distribuição desigual da renda per capita e tantos outros. Tentar, todavia, compensar esses males usando a Convenção do Clima para isentar os países em desenvolvimento de esforços para evitar novas catástrofes, como as causadas por mudanças climáticas, tem um forte componente de ingenuidade e de falta de realismo.
Por essa razão, as conferências preparatórias para a grande conferência de Paris tornaram-se campos férteis para a retórica, a advocacia e até o turismo. Discute-se agora se decisões tomadas anteriormente, como a de que "todos os países" devem contribuir para reduzir as emissões, violam a Convenção do Clima, a qual dividiu os países em duas categorias: a dos industrializados, que deveriam reduzir suas emissões, e a dos países em desenvolvimento, que seriam isentos dessas obrigações.
A Convenção do Clima foi adotada em 1992 - há 22 anos, portanto - e muitas coisas mudaram desde então. Uma delas é a contribuição da China, que já supera as emissões dos Estados Unidos.
Os lideres políticos entenderam isso muito bem quando tentaram em Copenhague, em 2009, resolver esses problemas. Até o então presidente Lula concordou em apresentar "metas voluntárias" de reduções, que são questionáveis do ponto de vista técnico, mas politicamente representam um avanço porque são o reconhecimento de que os países em desenvolvimento também têm de contribuir.
O surpreendente é que desde então a diplomacia brasileira parece ter esquecido o que os chefes de Estado aceitaram em Copenhague e hoje se associa às teses mais retrógradas em discussão.
Se há uma área em que o Brasil poderia liderar e se destacar no cenário internacional, é a de mudanças climáticas. Isso ocorreu nos preparativos da Conferência do Rio em 1992. Essa liderança, contudo, foi perdida, como se viu na Rio+20, e não será recuperada se até 2015 a posição brasileira não mudar.
PROFESSOR EMÉRITO DA
USP, FOI SECRETÁRIO DO
MEIO AMBIENTE DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA DURANTE
AS NEGOCIAÇÕES DA RIO-92
21/04/2014 14h20 - Atualizado em 21/04/2014 14h39
Nasa vai criar mosaico de 'selfies' para celebrar Dia da Terra, nesta terça
Fotos de redes sociais com hashtag #GlobalSelfie serão compiladas.
Imagem deve ser feita com placa indicando o local de origem.
Para celebrar o Dia da Terra, lembrado nesta terça-feira (22), a
agência espacial americana (Nasa) reunirá uma série de "selfies"
postadas em redes sociais com a hashtag #GlobalSelfie para dar forma a
um inédito mosaico mundial. A agência pede que a foto seja feita
segurando uma placa que vai indicar o local onde a foto foi tirada.
No comunicado, a Nasa lembra que, apesar de seus cientistas terem identificado milhares de novos planetas no universo no últimos anos, não há nenhum outro planeta que é estudado mais de perto do que a Terra.
"Com 17 missões de observação da Terra orbitando nosso planeta e várias mais que serão lançadas neste ano, a Nasa estuda a atmosfera terrestre, a terra e os oceanos em toda sua complexidade", destacou um comunicado.
Por isso, pensando em celebrar o Dia da Terra, vai montar uma coleção de autorretratos, os chamados "selfies", para criar um mosaico único das pessoas que habitam nosso planeta.
No comunicado, a Nasa lembra que, apesar de seus cientistas terem identificado milhares de novos planetas no universo no últimos anos, não há nenhum outro planeta que é estudado mais de perto do que a Terra.
"Com 17 missões de observação da Terra orbitando nosso planeta e várias mais que serão lançadas neste ano, a Nasa estuda a atmosfera terrestre, a terra e os oceanos em toda sua complexidade", destacou um comunicado.
Por isso, pensando em celebrar o Dia da Terra, vai montar uma coleção de autorretratos, os chamados "selfies", para criar um mosaico único das pessoas que habitam nosso planeta.
Modelo
de placa disponibilizado no site da Nasa para ser utilizado em selfies
feitas por pessoas que falam português (Foto: Divulgação/Nasa)
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