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domingo, 13 de abril de 2014

RELATÓRIO DA ONU

13/04/2014 08h13 - Atualizado em 13/04/2014 09h29

Relatório da ONU vê ações contra mudança climática como insuficientes

Capítulo sobre corte de emissões é o último de diagnóstico climático.
Documento foi elaborado por painel de especialistas das Nações Unidas.

Eduardo Carvalho Do G1, em São Paulo

SUGESTÕES DO RELATÓRIO DA ONU PARA GOVERNOS REDUZIREM A EMISSÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA*
Energia: "descarbonizar" a geração de eletricidade, investindo em recursos como vento, sol e água para gerar energia
Transporte: investir em veículos de massa, como trens e ônibus e incentivar veículos movidos a combustíveis menos poluentes
Construção: implementar as inovações tecnológicas de redução das emissões
Uso da terra: reduzir o desmatamento, recuperar áreas degradadas e manter boas práticas na agricultura
Fonte: Sumário para os Formuladores de Políticas
*Ações necessárias para limitar o aquecimento do planeta até 2100, segundo especialistas do IPCC
A terceira e última parte do quinto Relatório de Avaliação feita por cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) afirma que são necessárias mais ações para cortar as emissões de gases de efeito estufa para limitar o aquecimento do planeta a 2ºC até 2100.
Segundo os cientistas, é preciso abandonar os combustíveis fósseis poluentes e utilizar fontes mais limpas para evitar o efeito estufa, que poderá provocar um aumento da temperatura do planeta entre 3,7ºC e 4,8ºC antes de 2100, o que seria um nível catastrófico.
"Há uma clara mensagem da ciência: para evitar uma interferência perigosa com o sistema climático, temos que deixar de continuar operando igual", explicou Ottmae Edenhofer, copresidente do Painel Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC) da ONU, que elaborou o documento.
O documento chamado de "Sumário para os Formuladores de Políticas", divulgado neste domingo (13), em Berlim, apresenta ideias de como limitar o impacto das alterações do clima a partir da análise de 900 modelos econômicos, formulados por governos e pesquisadores, além dos resultados das negociações sobre o clima.
Segundo a brasileira Suzana Kahn Ribeiro, vice-presidente do grupo de mitigação do IPCC e uma das autoras do novo capítulo, o texto quer chamar a atenção de governantes para a inércia climática. "Se não tiver uma atitude drástica, não tem a menor chance de limitar em 2ºC até o final do século", disse ela.
Emissões mais altas
De acordo com o sumário, é "altamente confiável" que entre 2000 e 2010 houve um crescimento anual de 2,2% das emissões de gases de efeito estufa no mundo. E isso teria ocorrido mesmo com o conhecimento prévio de que entre 1970 e 2000 as emissões haviam aumentado 1,3% ao ano.
O texto diz ainda que 80% dos lançamentos ocorridos entre 2000 e 2010 vieram da queima de combustíveis fósseis, principalmente da geração de energia e indústria.
Principais ações
De acordo com as previsões do relatório, até 2050 o setor de energia deve emitir o dobro ou talvez o triplo da quantidade de gases em comparação às 14 gigatoneladas de CO2 equivalente lançadas em 2010. Por isso, "descarbonizar" a geração de eletricidade é um componente chave para o funcionamento das estratégias de redução de emissões.
O texto afirma que é preciso investir em formas alternativas que usem o vento, o sol e a água para gerar energia. Há ainda uma discussão em torno da matriz nuclear, considerada pelos cientistas uma tecnologia de baixo carbono, mas com barreiras operacionais e de segurança, necessitando, desta forma, mais progressos em pesquisas.
Na área de transportes, o relatório sugere a necessidade de diversificar os modais, com maior investimento em meios de massa, como trens e ônibus, e pede incentivos no desenvolvimento de combustíveis menos poluentes e veículos que usem a eletricidade.
Emissões na França (Foto: Joel Saget/AFP)Emissões do setor de energia são as que mais
precisam ser reduzidas (Foto: Joel Saget/AFP)
No setor de construção, o documento menciona avanços tecnológicos para redução de gases, principalmente em países em desenvolvimento, que contribuíram para a estabilização ou redução de emissões. No trecho que trata da indústria, o IPCC sugere um corte de 25% nas emissões em comparação aos níveis atuais com a implementação de inovações tecnológicas.
Sobre uso da terra, agricultura e florestas, o relatório indica um declínio de emissões nessas áreas, principalmente pela diminuição do desmatamento. Os cientistas apontam que boas práticas na agricultura, a conservação de florestas e a recuperação de áreas degradadas são formas efetivas de mitigar a mudança climática.
Brasil na contramão
Apesar dos cientistas apontarem a inovação no setor de energia como forma de reduzir as emissões de carbono, Suzana comenta que o Brasil segue atualmente na contramão ao não aumentar a participação de fontes renováveis e ainda acionar termelétricas para aumentar a oferta de eletricidade do país. "Se a direção é descarbonizar, estamos indo ao contrário", diz.
Se a direção é descarbonizar, estamos indo ao contrário"
Suzana Kahn, vice-presidente do
grupo de mitigação do IPCC
Dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) divulgados na semana passada apontam que o uso da energia térmica no Brasil aumentou 11% entre fevereiro de 2013 e 2014. O baixo nível dos reservatórios utilizados pelo sistema hidrelétrico obrigou o país a acionar as termelétricas, que geram energia por meio da queima de combustíveis como óleo, gás, carvão e biomassa.
"Tirando a parte de desmatamento, floresta e agricultura, não temos um programa forte de eficiência energética, transporte de massa, com incentivos ao transporte individual", disse ela.
Previsões científicas
As informações são complementares a dois outros capítulos do relatório, divulgados em setembro de 2013 e março de 2014.
O primeiro capítulo afirmava que há mais de 95% (extremamente provável) de chance de que o homem tenha causado mais de metade da elevação média de temperatura registrada entre 1951 e 2010, que está na faixa entre 0,5 a 1,3 grau.
Sobre as previsões, a primeira parte trouxe também a informação de que há ao menos 66% de chance de a temperatura global aumentar pelo menos 2ºC até 2100 em comparação aos níveis pré-industriais (1850 a 1900). Isso se a queima de combustíveis fósseis continuar no ritmo atual e sem o cumprimento de políticas climáticas já existentes.
Os 259 pesquisadores-autores de várias partes do mundo, incluindo o Brasil, estimaram ainda que, no pior cenário possível de emissões, o nível do mar pode aumentar 82 centímetros, prejudicando regiões costeiras do planeta, e que o gelo do Ártico pode retroceder até 94% durante o verão no Hemisfério Norte (leia mais aqui).
Impactos e adaptação
Já o segundo capítulo, lançado no fim de março, concluiu que são "altamente confiáveis" as previsões de que danos residuais ligados a eventos naturais extremos ocorram em diferentes partes do planeta na segunda metade deste século. E isso deve acontecer mesmo se houver corte substancial de emissões nos próximos anos.
O texto aponta que populações pobres de regiões costeiras podem sofrer com o aumento do nível do mar, altas temperaturas acentuariam o risco de insegurança alimentar e que áreas tropicais da África, América do Sul e da Ásia devem sofrer com inundações causadas pelo excesso de tempestades.
O documento afirma também que há fortes evidências de uma redução da oferta de água potável em territórios subtropicais secos, o que aumentaria disputas pelo uso de bacias hidrográficas, além de uma possível perda de espécies de plantas e animais pela pressão humana, como a poluição e o desmatamento de florestas (leia mais aqui).
Todo o conteúdo vai servir de base para as Conferências das Partes, as COPs, que ocorrem todos os anos e reúnem países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês). É nessa reunião que se desenhará um novo acordo global que vai obrigar todas as nações a cortar suas emissões de gases de efeito estufa e, com isso, frear o aquecimento global.
IPCC - arte (Foto: G1)
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