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sábado, 15 de fevereiro de 2014

TEMPERATURA DO MAR ESTÁ MUITO ALTA NO SUL


 Temperatura do mar está muito alta no sul chegando a 28°C e até 29°C em alguns locais e  no nordeste do Brasil baixou para 27°C na maior parte.

JORNAL ZERO HORA  12/02/2014 | 06h32

Temperatura do oceano sobe quase cinco graus em relação a 2013, e até os peixes sentem os efeitos do clima


Temperatura do oceano sobe quase cinco graus em relação a 2013, e até os peixes sentem os efeitos do clima Bruno Alencastro/Agencia RBS
Paulo Mattos tem notado a mudança no trabalho. Na segunda-feira, o termômetro do seu bote de pesca marcava 27,1°C Foto: Bruno Alencastro / Agencia RBS
Com um calor histórico, o verão de 2014 proporcionou férias diferentes para a maioria dos veranistas gaúchos. Com pouco vento, água clara e quente, quem foi ao litoral aproveitou um mar atípico e em horários alternativos. Quando o sol começa a baixar é quando a areia passa a receber ainda mais visitantes.
E nem mesmo a vida marinha conseguiu escapar do calorão. A temperatura do oceano aumentou quase cinco graus em relação à temporada passada, fazendo algumas espécies de peixes se esconderem nas profundezas geladas do oceano.
Professor do Departamento de Climatologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Francisco Aquino confirma que foi constatada a elevação na temperatura da superfície do mar desde dezembro até agora.
– Estamos com águas mais quentes, entre 1,5°C até 4,5°C acima da média, que normalmente varia entre 21°C e 25°C na costa gaúcha.
O veranista estranha a água quente, mas gosta. De férias em Torres desde o período do Natal, a estudante Catarina Marques Maia diz que nunca curtiu tanto um verão quanto esse. A água quente foi o principal fator responsável pela curtição de Catarina.
Pescador precisa ir onde água está fria
Além dos veranistas, os peixes também sentiram a diferença. Espécies clássicas como o papa-terra e o cação estão mais escassas nas redes dos pescadores, dando lugar a outras mais adaptadas ao clima quente, como o atum. Anchova, tainha, corvina e peixe-espada são outras variedades do clima tropical que têm aparecido na pesca de Jaime Souza da Silva, de Xangri-lá. Para capturá-las, ele precisa ir mais longe, a cerca de três quilômetros da costa, onde a água está mais fria.
– Na orla, está muito quente. Não estamos conseguindo pegar nada – justifica.
Outro que tem notado a mudança é Paulo Mattos. Um instrumento no bote que pesca em Rainha do Mar marcava, na manhã de segunda-feira, 27,1°C. Os quase cinco graus a mais em relação ao ano passado estão impactando a diversidade de peixes, mas não a quantidade. No verão, ele tira por dia cerca de 120 quilos de pescado, uma média boa para quem pratica a pesca artesanal profissional.
São cinco redes de 300 metros espalhadas em cinco pontos do oceano, colocadas quando o sol se põe e retiradas na manhã seguinte. Após driblar as primeiras ondas da arrebentação, Paulo ingressa em alto-mar para conferir o resultado. Seleciona um por um dos exemplares capturados. Aqueles cuja pesca é proibida ou sem valor comercial, ele descarta.
O aquecimento da água não prejudicou o negócio de Paulo. Pelo contrário: com a frota de botes de fibra que ele construiu com financiamento do Ministério da Pesca, está forrando as redes de peixe, e aproveitando a temporada para vender tudo o que pode. Depois da Páscoa, sai de férias e só volta a pescar no inverno.



MAR MAIS QUENTEDados sobre a temperatura da superfície do mar (TSM) entre dezembro de 2013 e 10 de fevereiro confirmam o aquecimento do oceano no Rio Grande do Sul.

• A temperatura média do mar na costa do Rio Grande do Sul, segundo a climatologia, normalmente varia entre 21°C e 25°C.
• Em dezembro e janeiro, a temperatura esteve entre 3°C a 4°C acima da média. Nos primeiros 10 dias de fevereiro, a variação ficou entre 1,5°C e 3°C.
• No último mês, registrou-se uma variação de 1,5°C até 4,5°C acima da média.


Fonte: Francisco Eliseu Aquino, chefe do Departamento de Geografia/UFRGS


Preço do camarão ficou mais salgado
O mercado de pescado sentiu o aquecimento. O abastecimento de camarão no Litoral Norte sofre com as altas temperaturas do mar. Para a produção, a água da lagoa precisa estar salobra (ou seja, ser invadida pela água do mar e salinizar) e bem gelada. Conclusão: com a alta temperatura, a produção este ano ficou prejudicada, e o preço no mercado subiu.
Na peixaria do Paulinho (foto abaixo), em Capão da Canoa, o preço do quilo de um tipo de camarão saltou de R$ 39 para R$ 79. O consumidor sentiu. Opções de tipos importados, mais graúdos, como os que o técnico de futebol Mano Menezes costuma comprar quando aparece na venda de Paulinho, dispararam para R$ 199 o quilo.
– O aquecimento da água fez todos os preços subirem. Ficamos preocupados com o que isso vai representar a longo prazo – diz o vendedor.
Mudança de postura
Uma das possíveis causas da mudança observada por pescadores no Litoral do Estado seria a elevação da temperatura nos oceanos ao redor do mundo.
– Com isso, as espécies de clima tropical começam a descer para os mares do sul em busca de conforto térmico, o mesmo desejado pelos seres humanos – explica José Truda Palazzo Junior, consultor ambiental e presidente da Ong Augusto Carneiro.
Truda é o gaúcho à frente do projeto Divers for Sharks, iniciativa que combate abusos da pesca industrial e, em especial, de tubarões, peixes que poderão ser preservados com ajuda internacional. É que o bilionário Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, anunciou uma doação de US$ 53 milhões para combater a sobrepesca no Brasil, no Chile e nas Filipinas.
A iniciativa, chamada de Oceanos Vibrantes, se empenhará em promover mudança de postura dos pescadores profissionais para melhorar a produtividade de peixes. Três organizações internacionais vão entrar em ação para criar novas políticas, tornar a pesca sustentável e atrair investidores para bancar práticas não predatórias.
Márcia Cora, diretora da Rare, uma das organizações que trabalharão no projeto, explica que o Brasil interessa ao bilionário  Bloomberg por estar mergulhado em um paradoxo: apesar da extensa costa, tem mares pobres em peixes.
– Em pouco tempo, a produção nacional não deve dar conta do consumo. Só no ano passado, houve um crescimento de 50% da demanda – afirma Márcia.

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