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sábado, 24 de janeiro de 2015

SUDESTE BUSCA SOLUÇÃO NO RIO PARAÍBA DO SUL




Atual situação da sub-bacia do Paraíba do Sul

 

JORNAL O DIA

Hidrelétrica Paraibuna foi desligada devido à escassez no Paraíba do Sul

Principal reservatório do sistema que abastece a Região Metropolitana do Rio atingiu o volume morto nesta quinta-feira

Constança Rezende , Francisco Edson Alves e Juliana Dal Piva
 
Rio - O principal reservatório do sistema que abastece a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, o Paraibuna, na Bacia do Rio Paraíba do Sul, atingiu, na quarta-feira, o chamado volume morto, que não permite mais a geração de energia.
É a primeira vez, desde a sua criação, em 1978, que a represa, localizada no Estado de São Paulo, atinge esse nível. De acordo com o relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), divulgado nesta quinta-feira, a Usina Hidrelétrica Paraibuna foi desligada, e o restante da água que está na represa, 2,096 trilhões de litros, será usada para dar vazão ao sistema e para o consumo.
No Rio, diferentemente de outros estados, os reservatórios têm a função de geração de energia e de abastecimento humano e são de propriedade das usinas. Segundo a Secretaria estadual do Ambiente, porém, no momento, não há previsão de falta de energia e nem de água. De acordo com Agência Nacional de Águas (ANA), desde ontem, o reservatório começou a usar a água do nível abaixo do limite operacional para geração de energia elétrica, e o volume útil está em 0,08%.

 

Estação de Tratamento do Guandu, que abastece a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, recebe água do sistema do Rio Paraíba do Sul
Foto:  Fabio Gonçalves / Agência O Dia

Para usar o volume restante de água, diversamente do que ocorre na reserva do Sistema Cantareira, em São Paulo, não serão necessárias obras, pois a água é acessível por gravidade. Em São Paulo, intervenções foram feitas para a instalação de bombas capazes de acessar o volume morto.
Paulo Carneiro, pesquisador do Laboratório de Hidrologia da Coppe/UFRJ, alerta que a grande preocupação no momento é o modo como se dará o uso do volume morto. Carneiro explica que essa reserva de água funcionará como uma grande caixa d’água, que ajudará a dar vazão a todo o sistema e permitirá que a estação de tratamento do Guandu, que abastece a Região Metropolitana do Rio, possa continuar operando normalmente.
“É importante que seja usado. Se não usar o volume morto, a água que vai correr pode não contar com a vazão necessária”, explicou o pesquisador. Segundo ele, sem a pressão ideal, não ocorrerá a transposição na barragem de Santa Cecília, em Piraí, que fornece água para o Rio Guandu.
Carneiro diz que é preciso planejar a vazão a longo prazo, já que as chuvas do verão estão abaixo do normal, e o inverno é, em geral, uma estação seca. “As vazões vão ser permanentes ou vão flutuar? Qual vai ser a regra de operação?”, questionou. A ANA informou ontem que, por ora, as vazões atuais estão mantidas, mas o volume total da reserva acessível por gravidade ainda está sendo estudado.
O presidente da Cedae, Jorge Briard, disse, em solenidade em Angra dos Reis, que 2015 é o ano que começa com o menor volume de água em todo o estado desde 1991.
Falta de campanhas para economia é criticada
O presidente do Conselho estadual de Recursos Hídricos (Cerhi-RJ), Décio Tubbs, criticou ontem a falta de planejamento e de campanhas do governo para a conscientização na economia de água.
“Esse problema está maior agora por causa da falta de planejamento dos governantes. Nossas autoridades foram frouxas quando precisavam aconselhar a população a economizar água. Agora é torcer para chover e que o governo pense melhor na próxima crise, que não está longe”, afirmou Tubbs.
O professor da Coppe/UFRJ Paulo Carneiro ressaltou também a falta de dados concretos sobre a gravidade da situação. “O que me causa espécie é que já estamos entrando no volume morto, e nenhuma informação mais contundente aparece. Fica parecendo que está tudo sob controle, e não está”, afirmou.
O pesquisador explicou, que diferentemente de São Paulo, são diversos os usos de consumo das barragens do Paraíba do Sul, e agora todos precisam ser reavaliados. Em caso de falta de água, ele avalia que os locais que já têm dificuldade de distribuição (distantes ou mais altos) serão os primeiros a ser afetados, o restante vai depender do operador do sistema.
Segundo a Firjan, 30% das indústrias já são prejudicadas pela crise hídrica

O baixo nível dos reservatórios de água já prejudica 30% das indústrias fluminenses. Isso é o que aponta pesquisa da Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan). Segundo o levantamento, das 487 empresas consultadas, metade afirma que o principal efeito sentido foi o aumento do custo de produção, o que pode afetar o bolso do consumidor.
Segundo Abílio Faia, coordenador de segurança e meio ambiente da Fábrica Carioca de Catalisadores, a empresa já enfrenta problemas por conta da diminuição da vazão do canal de São Francisco, abastecido pelo Rio Guandu, em Santa Cruz. Com a redução, o mar está entrando no canal, salinizando a água do canal. “Nosso abastecimento fica sanilizado durante um período de 5 horas, e só quando a maré baixa voltamos a ter água de qualidade”, disse o executivo.



Foto:  Arte O Dia

De acordo com ele, a quantidade de água doce ainda é suficiente, mas a previsão é que a situação piore em alguns meses. “A tendência é reduzir mais, e teremos que adquirir um sistema que permita dessanilizar a água ou comprar da Cedae”, prevê. Abílio Faia estima que isso representaria um aumento de 25% no custo da captação de água, o que poderia aumentar em até 10% o preço dos produtos da fábrica.
Gerente-geral de Meio Ambiente da Firjan, Luis Augusto Azevedo, alertou para a conscientização das empresas e da população. “Se não enfrentarmos seriamente a questão do saneamento, buscarmos novas fontes e tecnologias, e estimularmos a população e as empresas a economizar, a demanda por água será superior à capacidade de oferta”, avalia.
Na Baixada, população apela para poços artesianos
Com o objetivo de não ficar com as torneiras secas, moradores de diversos municípios da Baixada Fluminense e Região Metropolitana, apelam com cada vez mais frequência para os poços artesianos, que nem sempre saem baratos. A qualidade da água nem sempre é levada em conta.]
De acordo com a diarista Jorgenete dos Santos, de 59 anos, que mora numa vila que abriga dez famílias, no bairro Éden, em São João de Meriti, por exemplo, os moradores da região dão “graças a Deus” quando o local escolhido para a perfuração jorra água.
“Isso é raro. A qualidade não importa, a gente ferve e fica tudo bem. Se for ruim demais, muito salobra, só usamos para lavar banheiro e roupa”, explica Jorgenete. Ela e os vizinhos pagaram R$ 4 mil por uma cisterna de 40 metros de profundidade onde foi encontrado o veio d'água.
Diariamente, têm que levar a mangueira até suas caixas e abastecê-las. “Há oito meses tem sido assim, a Cedae nem manda mais a conta”, diz o técnico em refrigeração José Roberto da Silva, 45.
Ministro: País pode ter grave problema de energia
O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse ontem que, se os reservatórios das hidrelétricas brasileiras chegarem a níveis menores que 10% da capacidade máxima, o país poderá ter “problemas graves”, e o governo tomará as “medidas necessárias”, que podem incluir o racionamento de energia. Atualmente, os reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste estão em 17,43% de sua capacidade máxima e os da região Norte, em 17,18%.
“Mantido o nível que temos hoje nos reservatórios, temos energia para abastecer o Brasil. É óbvio que se tivermos mais falta de água, se passarmos do limite prudencial de 10% nos nossos reservatórios, estamos diante de um cenário que nunca foi previsto em nenhuma modelagem”, disse Braga.
Nos estados de São Paulo e Minas Gerais, o racionamento de água está cada vez mais próximo. Decisão da Agência Nacional de Águas (ANA), publicada ontem no Diário Oficial da União, estabelece que as companhias de saneamento básico, indústrias e agricultores de 38 cidades paulistas e quatro mineiras terão de reduzir a captação de água nos rios Jaguari, Camanducaia e Atibaia sempre que a vazão cair para limites entre 4.000 litros por segundo e 1.500 litros por segundo. A medida se aplica ainda quando o volume útil das represas Jaguari, Jacareí, Cachoeira e Atibainha, do sistema Cantareira, atingir 5%.
O nível de 5% foi alcançado na primeira metade de junho de 2014, quando o Cantareira passou a captar apenas a água do “volume morto”. A 6ª edição da pesquisa Indicadores de Referência de Bem Estar no Município mostrou que oito em cada dez paulistanos acreditam que é grandeo risco de acabar a água na cidade.
A escassez levou a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) a fazer solicitação ao Instituto Mineiro de Gestão das Águas para que seja decretada “situação hídrica crítica”, que dá poder à estatal de adotar o racionamento e de aumentar as tarifas.
Colaboraram Lucas Gayoso e Vinícius Amparo


23/01/2015 18h06 - Atualizado em 23/01/2015 20h09

Governo inclui no PAC obra para ligar Paraíba do Sul ao Sistema Cantareira

Obras terão custo de R$ 830,5 mi, segundo Ministério do Planejamento.
Cantareira é um dos principais sistemas que abastecem Grande São Paulo.

Filipe Matoso Do G1, em Brasília

O governo federal incluiu na lista de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) a transposição de água da bacia do Rio Paraíba do Sul, no Rio de Janeiro, para o Sistema Cantareira, um dos responsáveis pelo abastecimento de água na Grande São Paulo, informou nesta sexta-feira (23) o Palácio do Planalto.
 
A transposição é um projeto do governo paulista para auxiliar o Sistema Cantareira, que enfrenta uma crise hídrica por conta da estiagem no Sudeste. O Rio de Janeiro era inicialmente contrário à obra porque a bacia abastece diversos municípios do estado, incluindo a região metropolitana da capital fluminense.

Alckmin apresentou a ideia em março do ano passado. A previsão é que, após definir contratação da empresa responsável, a obra seja executada em 14 meses.

Para defender o projeto, o governador esteve em Brasília com a presidente Dilma Rousseff após as eleições. Recentemente, em 7 de janeiro, Alckmin ouviu do ministro das Cidades, Gilberto Kassab, que Dilma já tinha dado parecer favorável à inclusão do projeto no PAC. Entretanto, no encontro, Alckmin pediu a Kassab apoio para acelerar o "enquadramento" da obra, que é uma etapa burocrática de análise da proposta anterior ao aval oficial para o financiamento e lançamento de edital.
Agora com a inclusão na lista do PAC, os contratos firmados podem ser executados por meio do Regime Diferenciado de Contratações (RDC). O RDC acelera e simplifica procedimentos das licitações porque, entre outros mecanismos, permite a contratação por inteiro de uma obra, sem necessidade de contratar em separado o projeto básico, o projeto executivo e a execução.
Transposição vai custar R$ 830 milhões. (Foto: Arte/G1)
Conforme o Ministério do Planejamento, as obras serão executadas pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e custarão R$ 830,5 milhões. De acordo com a pasta, os recursos serão financiados via Caixa Econômica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES).
Segundo estimativas do governo federal, a interligação aumentará, em média, a disponibilidade hídrica no sistema Cantareira em 5,1 metros cúbicos por segundo. De acordo com o Planejamento, as águas do Paraíba do Sul serão levadas ao Cantareira por meio de um canal entre as represas Jaguari (RJ) e Atibainha (SP).

Crise no abastecimento
A crise hídrica no estado de São Paulo começou ainda no ano passado. O Sistema Cantareira, que atendia 9 milhões de clientes da Sabesp, atualmente fornece água para 6,2 milhões de pessoas. Nesta sexta, o Cantareira operava com 5,3% da capacidade.
No último dia 16, a ANA autorizou a obra de ligação da bacia do rio Paraíba do Sul com o Sistema Cantareira. O aval foi dado por um grupo de trabalho criado na agência, com representantes dos governos de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, para discutir soluções para a crise da falta de água em municípios paulistas.
 

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