Antes mesmo de começar, conferência do clima realizada no Catar gera polêmica
Ambientalistas afirmam que creditar a um integrante da OPEP a sede da Conferencia do Clima é como pedir ao Drácula para cuidar do banco de sangue
Rio - Quando o Catar foi escolhido para sediar as negociações das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, ambientalistas ficaram de cabelos em pé. As negociações já estavam problemáticas, com poucos resultados na última conferência realizada na África do Sul em 2011. No entanto, agora as discussões de alto nível vão acontecer em um dos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que mostrou pouco interesse nas mudanças climáticas e ainda por cima destacou um ex-ministro do petróleo para liderar as negociações que começam nesta segunda.
“Organizações não governamentais estão com uma mistura de sentimentos sobre isso”, disse Wael Hmaidan, ativista libanês e diretor da Climate Action Ntwork. “Alguns estão muito preocupados e acham isso um sinal de que o Catar não está comprometido com as negociações climáticas. Outras pessoas acreditam que é uma oportunidade de ter um debate mais elevado sobre clima na agenda política da região”, disse.
Ativistas também reclamam que o Catar tem demonstrado pouca liderança e sendo pouco transparente que os países sede das conferencias anteriores. Uma das organizações não governamentais que está fazendo mais barulho é a Avaaz, que afirma: “Ter um dos lideres da OPEP encarregados nas discussões climáticas é como pedir ao Drácula para tomar conta do banco de sangue”. Eles também estão criticando a liderança do Catar por também aceitarem uma grande conferência sobre petróleo no mesmo ano que sediam a conferência do clima.
Publicamente, delegados têm evitado fazer críticas. Os dirigentes das Nações Unidas na Conferência do Clima afiram que as preparações estão encaminhadas. “Eu não estou preocupada”, disse Christiana Figueres, secretária executiva da Convenção das Nações Unidas para Mudança Climática. “Estamos muito agradecidos por Catar não só ter se oferecido, como literalmente ter brigado pela oportunidade e privilégio de sediar a conferência”, disse.
Sediar a conferência é parte da campanha do país de se projetar como uma potência, após ganhar a disputa para abrigar a Copa do Mundo de 2022 e coibir revoltas na Síria e na Líbia.
A conferência também pode dar à família real do país a oportunidade de mudar a percepção mundial sobre a região, que no passado estava preocupada apenas com a proteção de suas vastas reservas de petróleo.
Aparentemente, o Catar e seus vizinhos do Golfo Pérsico acreditam que este quadro é antiquado. Os Emirados Árabes Unidos apoiou a extensão do Protocolo de Kyoto, que põe metas para redução das emissões de gases causadores do efeito estufa em países industrializados. Eles também foram os primeiros entre os países do Golfo a assinar o acordo de Copenhague em 2009.
Até mesmo a Arábia Saudita, que no passado liderou a oposição sobre as negociações sobre mudança climática para proteger sua produção petrolífera, passou a agitar a equipe de negociadores.
“Eu descrevo o Catar com o epicentro das mudanças climáticas. Não há água, nem comida. É um deserto estéril”, disse Fahad Bin Mohammed al-Attiya, diretor do comitê que organiza a COP18 em Doha. “Qualquer problema na estação da colheita ou produtividade fora do Golfo vai impactar diretamente no nosso acesso a a comida e com poços globais razoáveis”, disse.
Tanto o Catar como os Emirados Árabes Unidos estão trabalhando para a construção de prédios verdes. Catar afirma que vai ter 20% de sua matriz energética em energias renováveis até 2024, enquanto a Arábia Saudita, Kuwait e Emirados Árabes Unidos anunciaram planos de altos investimentos em energia solar.
“Nos não queremos continuar sendo vistos como exportadores de barris de petróleo ou de gás em dutos”, disse o sultão Ahmed al-Jaber, executivo chefe do escritório de Masdar e enviado especial de energia e mudanças climáticas dos Emirados Árabes Unidos.
No entanto, ativistas querem ver mais do que conversas na conferência do clima. A ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson , disse que eles deveriam assumir metas voluntárias de corte de emissões, como fez o México, que sediou a conferência em 2010. As emissões totais dos países do golfo são uma fração das emissões da China e dos Estados Unidos, mas estipular uma meta acabaria por inspirar outros países a tomar a mesma atitude.
Ativistas também afirmam que os países do Golfo deveriam fazer mais para cortar subsídios de combustíveis, que fazem com a gasolina em muitos países seja mais barata que água engarrafada.
As informações são do iG
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