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A
cobertura de gelo marítimo registrada na Antártida hoje está nos
maiores níveis desde o ano de 2010. Na virada do mês a cobertura estava
774 mil quilômetros quadrados acima da média histórica 1979-2008,
diferença que corresponde a 1646 vezes a área de Porto Alegre para se
ter uma idéia.
![](http://www.metsul.com/blog2012/photos/e5e7c644a9fb0b1e5c1257c204e27308.jpg)
A
cobertura de gelo marítimo junto ao continente antártico tem estado
acima da média há meses, principalmente a partir do final da primavera
passada. A cobertura de gelo decaiu muito menos que o normal durante o
último verão austral e no seu mínimo anual, que se dá em março, seguiu
com níveis acima da média histórica. As maiores coberturas de gelo foram
observadas nos mares de Weddel e Ross. Causa provável para a quantidade
de gelo no mar acima da média é a ocorrência de vento intenso acima do
normal na área ao redor do continente antártico nos últimos meses,
especialmente durante o verão. O vento tende a espalhar o gelo, mas não
necessariamente o seu volume. Um indicador do vento junto à Antártida é o
chamado Modelo Anular Sul (Southern Annular Mode - SAM), conhecido também como AAO (Oscilação Antártica).
A
AAO esteve em níveis recordes nos meses de dezembro e janeiro, o que,
na análise da MetSul, foi mais um fator que se somou para a ocorrência
de estiagem no Rio Grande do Sul, como tivemos oportunidade de destacar
em artigo na mídia ainda em 25 de fevereiro último (leia).
Há vários estudos publicados mostrando a correlação existente entre as
fases positivas e negativas da AAO/SAM com o clima do Sudeste da América
do Sul. Veja no gráfico como a cobertura de gelo acima da média
coincide com valores acima da média do Modo Anular Sul nos últimos
meses.
![](http://www.metsul.com/blog2012/photos/4e405e8cbea989229c88cdf54d0778dc.jpg)
Durante
a fase negativa da oscilação, a tendência é que as trajetórias dos
ciclones em todo o Hemisfério sejam para Norte com intensa atividade
frontogenética (formação de frentes frias) sobre a América do Sul e o
Atlântico, trazendo chuva acima da média no Sudeste da América do Sul,
conforme pesquisa da USP. Já na fase positiva, como a de agora, em
regra, as condições são inversas, ou seja, há uma tendência de anomalias
negativas de precipitação na América do Sul. Observe que a chuva abaixo
da média no Rio Grande do Sul nos primeiros quatro meses do ano
coincide não apenas com a atuação do La Niña no Pacífico e um forte
resfriamento do Atlântico Sul no verão, mas também com os meses de fase
positiva da oscilação antártica (gráficos de chuva do Cptec).
![](http://www.metsul.com/blog2012/photos/a65a1a72d886d1a4870b8923625d7597.jpg)
Estudo
publicado há alguns anos por pesquisadores da UFRGS, que defendem a
linha de estudo aquecimentista nas mudanças climáticas, destacou uma
mudança na trajetória do ar frio em direção à América do Sul. De acordo
com o estudo, as incursões polares que atingem o Brasil se originam no
Mar de Bellinghausen, a Oeste da Península Antártica. Os pesquisadores,
contudo, defendem que houve mudanças. O aquecimento da Terra teria
alterado a dinâmica da atmosfera com vento mais forte. Estes se originam
do Oceano Pacífico e podem ter deslocado, segundo estes cientistas, a
origem das massas frias para o Mar de Weddell, no outro lado da
Península Antártica. Estas massas de Weddel são mais frias por existir
maior cobertura de gelo no mar e atingiriam o Brasil em épocas distintas
das massas de ar polar tradicionais. Como o trabalho é de 2006 e houve
nítida mudança nos padrões do nosso inverno de 2007 a 2011 seria
interessante que os cientistas fizessem uma nova análise.
![](http://www.metsul.com/blog2012/photos/1f6cbdc470606d6258264bcb58e243ee.jpg)
A
cobertura de gelo na Antártida em março, segundo dados divulgados há
poucos dias pelo NOAA, teve níveis muito semelhantes aos observados nos
anos de 1994, 1995, 2001 e 2009, a quarta maior em 34 anos de registros
com 16% de gelo acima da média. Se o dado se presta como algum
indicador, vale recordar que a maioria destes anos foi muito mais
marcada por eventos extremos de frio (nevada de julho de 1994, onda de
frio de agosto de 1995 e onda de frio de julho de 2009). Os gráficos do
NOAA mostram (acima) ainda como é crescente a tendência de aumento do
gelo na Antártida nos últimos anos, ao contrário que se dá no Ártico,
apesar de uma pequena recuperação nos últimos três anos.
![](http://www.metsul.com/blog2012/photos/9a57f02abd0837bf3122163e5b494260.jpg)
A
cobertura de gelo marítimo no Ártico em março (acima) foi 3,4% abaixo
da média, a nona menor na era de observação por satélites iniciada em
1979. Foi a maior cobertura na região desde o ano de 2008 e uma das
maiores da última década. Em abril, a cobertura de gelo no Ártico ficou
próxima da média e foi a maior desde 2001.
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