24/11/2012 - 17h28
Em conferência sobre clima, ambientalistas vão pressionar por respostas
Carolina Gonçalves | de Brasília
Em conferência sobre clima, ambientalistas vão pressionar por respostas
Carolina Gonçalves | de Brasília
A pouca expectativa em torno de um resultado concreto da 18ª
Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP18) não deve contaminar
as negociações a serem travadas no encontro pela redução dos impactos
das mudanças climáticas. Para as organizações ambientais que vão
acompanhar os debates, do dia 26 de novembro a 7 de dezembro em Doha
(Catar), o evento tem que servir, ao menos, para “pavimentar o caminho”
para as futuras propostas e metas a serem assumidas pelos países.
“Doha talvez tenha uma COP com atração diferente da [conferência do ano
passado] de Durban [na África], mas não dá para ser uma conferência com
menos importância. Esta COP tem uma relevância muito grande para dar
resposta à emergência do clima. A cada ano, vemos efeitos climáticos
mais extremos, como secas, enchentes e grandes tempestades”, alertou
Carlos Ritll, coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia
do WWF-Brasil.
Assim como outras organizações da sociedade civil, o WWF terá
representantes acompanhando as discussões. Como não têm direito a
manifestações dentro das plenárias, onde os negociadores internacionais
vão discutir metas e compromissos, os observadores vão aproveitar os
corredores do evento e encontros paralelos com as delegações dos mais de
190 países para apontar caminhos e soluções possíveis para os temas
mais complexos.
Assim como a maioria dos negociadores e especialistas, os
ambientalistas também acreditam que o resultado mais concreto da COP18
será a definição da segunda rodada de compromissos do Protocolo de
Quioto, com metas obrigatórias assumidas pelos países desenvolvidos para
reduzir as emissões de gases de efeito estufa, que começam a valer no
dia 1º de janeiro de 2013. Mas o temor é que os impasses em torno de
questões polêmicas, como os cálculos e permissões para essas emissões,
atrasem os acordos.
“Existem alguns aspectos na mesa de negociação que são complexos.
Esperamos que haja boa vontade para que os impasses não atrapalhem”,
disse Ritll.
A recessão econômica enfrentada pelos países do Leste Europeu, que
pegaram grande volume de empréstimos desde que abandonaram o regime
comunista na década de 1990, fez com que essas economias reduzissem
significativamente o ritmo de produção econômica. As dívidas, somadas à
última crise financeira mundial (2009), levou à menor industrialização
e, como consequência, o volume de emissões de gases de efeito estufa
ficou bem abaixo da média estipulada para os países desenvolvidos.
Esse cenário faz com que esses países tenham um excedente, ou seja,
dispõem de um limite acima do permitido para as emissões, o que
possibilita uma margem maior de retomada das atividades econômicas para
não travar o desenvolvimento. A polêmica é se, diante dos alertas da
ciência em relação às mudanças climáticas, o uso do excedente deve ou
não ser liberado pela comunidade internacional agora. “Defendemos que o
Leste Europeu não use esse excedente, e sim tente comercializar. Isto
significaria, na conta global, que os países em desenvolvimento reduzam
menos”, calculou.
Os observadores também alertam para discussões com poucas chances de
avanços, entre elas, os mecanismos de financiamento e inovadores. Os
temas estão no topo das preocupações dos negociadores dos países
desenvolvidos e das nações pobres. Os ricos temem ter que se comprometer
com o aporte de recursos no mesmo momento em que enfrentam uma crise
econômica mundial. Já as delegações dos países em desenvolvimento
esperam pelo dinheiro para conseguirem combater o desmatamento ou adotar
melhorias sanitárias que impactam na queda dos gases de efeito estufa.
“A gente sabe que muitos países vão usar, como argumento, a crise para
se isentar de colocar mais recursos. Mas há discussões que podem
avançar, como mecanismos para emissões de transporte aéreo e marítimo de
carga”, disse.
As organizações defendem ainda que o foco no Tratado de Quioto “não
seja desculpa para não ter avanços importantes nos outros temas. “A
emergência não nos deixa margem para perda de tempo,” acrescentando que é
fundamental manter o que já foi acertado na Plataforma de Durbin, que
ainda está em construção, mas prevê metas obrigatórias para todos os
países a partir de 2020.
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