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• atualizado às 14h17
Água é mais valiosa que petróleo, diz especialista
No Dia Mundial da Água, gerente da National Conservancy acredita que a humanidade sabe como preservar o mineral
O Dia Mundial da Água é comemorado neste sábado, 22 de
março, como uma tentativa da Organização das Nações Unidas (ONU) de
conscientização sobre o uso e a conservação do líquido. Neste ano, o
tema é Água e Energia e traz em todo o mundo debates sobre a produção
energética de forma limpa e econômica. Segundo a ONU, mais de 1 bilhão
de pessoas não tem acesso à eletricidade e outras 768 milhões não possui
acesso à água potável.
Em todo o planeta a água é preocupação, já que há forte
aumento na demanda nos últimos anos acompanhado de aumento proporcional
no consumo per capita. Soma-se a isso a poluição e degradação
de mananciais e a crescente urbanização e está desenhado um cenário
pouco animador no que diz respeito à preservação dos recursos hídricos.
De toda a água presente no planeta, só 3% está
disponível como água doce. Destes 3%, três quartos está congelada nas
calotas polares e 10% estão confinados nos aquíferos; portanto, à
disposição em estado líquido resta apenas 15%.
E a tendência é de piora. Entre os anos 1900 e 2000, o
consumo de água no planeta aumentou em dez vezes (de 500 km3/ano para
aproximadamente 5.000 Km3/ano). E os usos múltiplos da água,
como alimentação, energia, indústria, também aceleraram em todo planeta.
Para os próximos anos, dois fenômenos vão impactar o
acesso à água: expectativa, até 2050, é de que haja 9 bilhões de pessoas
no mundo, com 47% desta população vivendo em grandes cidades; além
disso, e espera-se que grande parte dos países apresentem um aumento de
renda per capita.
A urbanização é alvo de preocupações em se tratando dos
recursos hídricos. Ela aumenta as demandas para grandes volumes de água e
também os custos do tratamento, além das necessidades de mais energia
para distribuição de água e a pressão sobre os mananciais.
Apesar dos números nos levarem a um risco de colapso, o gerente de Fundos de Água da organização The Nature Conservancy
(TNC), Fernando Veiga, é otimista em relação ao futuro dos recursos
hídricos. Para ele, o grande desafio do século XXI é equilibrar a
demanda e a conservação, como através de cuidados com as mananciais.
Fernando é claro: “é um grande desafio, mas nós sabemos para onde temos
de caminhar”.
Conversamos com o gerente de Fundos de Água da TNC, que é
uma das maiores organizações do mundo de conservação ambiental,
presente em mais de 35 desde 1951. O especialista Fernando Veiga já
liderou a campanha da TNC “Plant a Blillion Trees”, para restauração da
Mata Atlântica do Brasil, entre outros projetos – como o recente
“Movimento Água para São Paulo”. Veiga possui um Ph.D. em
Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um
diploma de bacharelado em Agronomia da Universidade Estadual Paulista.
No Dia Mundial da Água, o que é mais importante, no seu ponto de vista, a se fazer pela água no mundo?
O grande problema é atender o aumento da demanda com a
oferta de água. Acredito que a grande questão relacionada à água neste
momento é que você tem para os próximos anos dois fenômenos que vão
impactar o acesso à água: temos uma expectativa para 2050 de 9 bilhões
de habitantes no mundo, com um aumento de renda per capita da
população (o que é bom socialmente, mas um desafio ambiental). Alguns
estudos veem um aumento de consumo de 64 bilhões de metros cúbicos, o
que é um fator de expressão muito forte, significando uma série de
problemas de atendimento desta demanda.
Para se ter ideia, em 2030, 47% da população estará
vivendo em grandes cidades. Na América Latina, já sofremos um grande
processo de urbanização. Há uma expectativa de que teremos em breve 70%
da população vivendo na área urbana. Aliás, a América Latina já é o
continente mais urbanizado do planeta.
Quando a gente pensa em água, pensamos em coisas muito
básicas. Mas a água tem uma relação muito grande com alimentos
(agricultura consome 70% dos recursos) e a produção de energia, coisas
que são fundamentais. Hoje, encontramos a degradação de quase todos os
mananciais de abastecimentos principais no mundo. Isso significa a
devastação da cobertura vegetal original, o uso mal aproveitado de
pastagens e processos de poluição.
Qual o cenário em relação à demanda X população na América Latina?
A água não é distribuída igualmente, você vê pelo exemplo da Amazônia, que possui enorme recurso, mas baixa densidade populacional. Já em São Paulo, temos uma concentração de demanda e percebemos problemas sérios, como este sofrido atualmente na Cantareira. E isto não atinge somente a capital, mas toda a área próxima das cabeceiras dos rios fornecedores. Em Piracicaba, Campinas, temos valores hídricos iguais a de países semiáridos. Outro exemplo interessante neste sentido, é Lima, no Peru, 70% da população do país vivem onde estão apenas 1,8% da água.
A água não é distribuída igualmente, você vê pelo exemplo da Amazônia, que possui enorme recurso, mas baixa densidade populacional. Já em São Paulo, temos uma concentração de demanda e percebemos problemas sérios, como este sofrido atualmente na Cantareira. E isto não atinge somente a capital, mas toda a área próxima das cabeceiras dos rios fornecedores. Em Piracicaba, Campinas, temos valores hídricos iguais a de países semiáridos. Outro exemplo interessante neste sentido, é Lima, no Peru, 70% da população do país vivem onde estão apenas 1,8% da água.
Você é otimista em relação ao futuro?
Sim, porque estamos trabalhando no sentido da conscientização em todo o mundo. Há um engajamento. No setor privado, grande parte das empresas vem percebendo a importância deste tema, investindo na manutenção e proteção de recursos hídricos e suas mananciais. No setor público, vemos que vários países com agências de água ativas, cada vez mais preocupadas. É claro que o desafio é muito grande e nós vamos ter de trabalhar de forma conjunta. O que me deixa otimista é que sabemos para onde ir, temos bons exemplos de países que cuidaram de mananciais e conseguiram ter acesso à água em quantidade e qualidade.
Sim, porque estamos trabalhando no sentido da conscientização em todo o mundo. Há um engajamento. No setor privado, grande parte das empresas vem percebendo a importância deste tema, investindo na manutenção e proteção de recursos hídricos e suas mananciais. No setor público, vemos que vários países com agências de água ativas, cada vez mais preocupadas. É claro que o desafio é muito grande e nós vamos ter de trabalhar de forma conjunta. O que me deixa otimista é que sabemos para onde ir, temos bons exemplos de países que cuidaram de mananciais e conseguiram ter acesso à água em quantidade e qualidade.
Quais exemplos são estes?
Temos alguns bons exemplos: a Costa Rica dá incentivos econômicos ao setor agropecuário para a conservação e cuidados com mananciais, da natureza. Eles conseguiram trabalhar de forma conjunta na restauração desta natureza e recuperar importantes fontes de água. Em Quito, no Equador, nosso exemplo mais próximo, eles possuem um ótimo modelo de iniciativa, de parceria local entre as empresas de água e os fundos de água, possibilitando a qualidade e a oferta de água, e é algo que queremos replicar no Brasil: reunir um grupo de atores usuários de água, recolhendo recursos públicos e privados com parcerias com a população local, os chamados “produtores locais”.
Temos alguns bons exemplos: a Costa Rica dá incentivos econômicos ao setor agropecuário para a conservação e cuidados com mananciais, da natureza. Eles conseguiram trabalhar de forma conjunta na restauração desta natureza e recuperar importantes fontes de água. Em Quito, no Equador, nosso exemplo mais próximo, eles possuem um ótimo modelo de iniciativa, de parceria local entre as empresas de água e os fundos de água, possibilitando a qualidade e a oferta de água, e é algo que queremos replicar no Brasil: reunir um grupo de atores usuários de água, recolhendo recursos públicos e privados com parcerias com a população local, os chamados “produtores locais”.
Outro exemplo é a cidade de Nova York, nos EUA. Lá
encontramos uma das águas de melhor qualidade no país. Eles retiram o
mineral em lugares distantes, e investiram pesadamente na década de
1990, com associações de produtores rurais. A água vem direto dos
canais, não passam por tratamento de agua. É interessante do ponto de
vista ambiental, social, econômico.
A água é o novo petróleo? O que você acha desta frase?
Com certeza! Aliás, a água é muito mais que o petróleo. Precisamos de água para tudo. O petróleo foi uma fonte de energia, é necessário, mas a água é essencial. A percepção a partir dessa frase tem a ver, claro, com a escassez. Nos casos na América Latina, achávamos que a água seria um bem inesgotável, que poderia se utilizar sem pensar. Mas, ao contrário, é um bem escasso, você tem que dar valor, você tem que tratar bem, você tem que punir quando tratam mal, acho que a água terá um valor econômico cada vez mais forte.
Com certeza! Aliás, a água é muito mais que o petróleo. Precisamos de água para tudo. O petróleo foi uma fonte de energia, é necessário, mas a água é essencial. A percepção a partir dessa frase tem a ver, claro, com a escassez. Nos casos na América Latina, achávamos que a água seria um bem inesgotável, que poderia se utilizar sem pensar. Mas, ao contrário, é um bem escasso, você tem que dar valor, você tem que tratar bem, você tem que punir quando tratam mal, acho que a água terá um valor econômico cada vez mais forte.
A passagem deste valor econômico da água é mais forte do
século 20 para 21. Porém, olhando para nós, acho que o Brasil está numa
situação muito melhor que boa parte dos países... Ainda temos tempo
para acertar. É um desafio, mas temos bons instrumentos.
Fernando Veiga é gerente de Fundos de Água e já
liderou a campanha da TNC Plant a Blillion Trees para restauração da
Mata Atlântica do Brasil. Veiga tem grande envolvimento com o Movimento
Água para São Paulo, de conservação dos mananciais que fazem parte das
fontes de abastecimento da região metropolitana e é uma iniciativa
financiada pelo Fundos de Água. É Ph.D. em Desenvolvimento Rural da
Universidade Federal do Rio de Janeiro e um diploma de bacharelado em
Agronomia da Universidade Estadual Paulista
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