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• atualizado às 17h45
Inverno rigoroso na Europa renova debate sobre aquecimento global
Para muitos pesquisadores, termômetros mais baixos são fenômeno meteorológico e não climático
Se tomada como parâmetro a temperatura média em períodos
de cinco anos, nos últimos 15 anos pode-se verificar uma redução na
curva de aquecimento global. E para Ed Hawkins isso não é uma
surpresa."Temos certeza que as emissões de dióxido de carbono foram
responsáveis por grande parte do aumento da temperatura nos últimos 150
anos. Porém, não partimos do princípio de que todo ano será mais quente
que o anterior", explica o pesquisador da Universidade de Reading, da
Inglaterra.
Durante as décadas de 1960 e 1970, diz Hawkins, também
houve anos em que as temperaturas diminuíram – e isso pode ser atribuído
a oscilações naturais. Segundo ele, em determinados intervalos de tempo
ocorrem mudanças nos oceanos, e o aquecimento dos últimos anos foi
absorvido no fundo do mar, seguindo um ciclo natural. Assim, esse calor
acaba não sendo mais constatado na superfície.
Outro motivo possível para esse resfriamento, segundo o
cientista, seria o aumento da queima de carvão em países como China e
Índia. A poeira fina resultante desse processo forma uma camada na
atmosfera que pode resfriar a terra, uma vez que ela reflete a radiação
solar. Mesmo assim, Hawkins ainda é reticente em afirmar se a atual atenuação do aquecimento global é uma oscilação natural ou não.
Peter Lemke, diretor do setor de pesquisas climáticas do
Instituto alemão Alfred-Wegener para pesquisa polar e marítima, adverte
sobre a utilização de estatísticas quinquenais para nivelar o
desenvolvimento do clima. "Processos climáticos devem ser avaliados em
um período de 30 anos", explica Lemke à DW. "Nos últimos 30 anos há uma tendência de aumento."
Lemke cita como exemplo 1998, ano considerado
extremamente quente. E a escolha de um ano especialmente quente ou frio
para o início de uma pesquisa, afirma, pode comprovar uma tendência
crescente ou decrescente.
O especialista garante que a temperatura subiu nos
últimos 15 anos de forma significativa – assim não é possível se basear
em um período curto. "A partir de uma perspectiva global, 2010 foi o ano
mais quente, mas a temperatura em 2005 não foi muito menor do que a
medida em 2010. Desde 1978, as temperaturas não estão mais no nível
normal – em comparação com uma média de um período de 30 anos – há um
nítido aquecimento", explica.
"O quão sensível é o nosso sistema climático a
interferências como o aumento das emissões de dióxido de carbono? Como o
sistema climático se comporta em relação à precipitação pluvial,
aumento da temperatura ou derretimento das calotas polares?", questiona
Lemke. Responder a essas perguntas, garante, "é muito complicado".
Medição controversa Mas
justamente essas questões são importantes para quem precisa se preparar
para as mudanças climáticas. Dependendo do modelos de medição, está
previsto um aumento da temperatura de 1,5 até 6 graus nos próximos cem
anos. Segundo Lemke, o relatório do Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que será publicado em
2014, não resolverá o problema da margem de flutuação dessa estimativa,
causado por esses modelos de medição diferentes.
O atual retardamento do aquecimento não é um motivo para
o fim do alerta. Hawkins acredita que o novo relatório do IPCC pode
admitir que o clima reage de forma menos sensível do que se acreditava
às emissões de dióxido de carbono. "Mesmo assim nós esperamos um grande
aquecimento na próxima década. Mas nós teremos eventualmente mais
tempo", diz Hawkins.
O longo período de frio intenso, que dá a impressão no
oeste europeu de um resfriamento global, é causado por uma zona de alta
pressão estável sobre a Escandinávia, ou seja, é um fenômeno
meteorológico e não climático. Em uma perspectiva global, o inverno foi
mais quente do que o normal, lembra Lemke.
"O interessante é que alguns estudos climáticos
revelaram que essa zona de alta pressão estável sobre a Escandinávia
surge com mais frequência quando há uma redução no volume do gelo
flutuante no Ártico no verão e no outono", explica Lemke. "Essa redução
esquenta o oceano, que devolve esse calor para a atmosfera, interferindo
no modelo de circulação normal e causando, assim, essa zona de alta
pressão mais estável que a habitual."
A dimensão do gelo flutuante no Ártico alcançou o seu
menor tamanho em 2012. Este início de primavera europeia com
temperaturas de inverno parece justificar a tese de Vladimir Petoukhov,
do Instituto de Pesquisas Climáticas de Potsdam. Em pesquisa publicada
em 2010, o pesquisador explica: "Invernos fortes não contradizem o
aquecimento global, e sim o completam."
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