Austrália culpa mudança climática por 'verão zangado'
Relatório do governo australiano diz que clima no país ficou mais extremo por causa do aquecimento global e isso causou calor recorde e inundações nos últimos meses
A mudança climática foi a principal força motriz por trás
de uma série de eventos climáticos extremos que, alternadamente,
queimaram e inundaram grandes regiões da Austrália nos últimos meses, de
acordo com um relatório divulgado na segunda-feira (4) pela Comissão do
Clima do país.
Uma onda de calor de quatro meses durante o verão australiano culminou em janeiro em queimadas que destruíram partes das costas leste e sudeste do país, onde a vive a maioria dos australianos. Essas temperaturas que bateram recordes foram acompanhadas por chuvas torrenciais e inundações nos Estados mais populosos de Nova Gales do Sul e Queensland, que deixaram pelo menos seis mortos e causaram cerca de US$ 2,43 bilhões em danos ao longo da costa leste.
Leia mais: Austrália admite negligência na proteção da Grande Barreira de Corais
Os cientistas do clima têm evitado vincular eventos climáticos individuais diretamente às mudanças climáticas. Cientistas australianos, em particular, têm sido cautelosos para ligar os dois, em parte porque o país está sempre passando por ciclos de seca e inundações das chuvas, que já são extremas quando comparadas com grande parte do resto do mundo. Mas o relatório da Comissão do Clima, com o título "O Verão Zangado", argumenta que a frequência e a ferocidade dos recentes eventos climáticos extremos indicam uma aceleração que é pouco provável de diminuir, a menos que medidas sérias sejam tomadas para evitar futuras alterações ao meio ambiente do planeta.
"Eu acho que uma das melhores maneiras de pensar sobre isso é imaginar que a linha de base mudou", Tim Flannery, líder da comissão, disse à Australian Broadcasting Corp "Se um atleta toma esteróides, por exemplo, sua linha de base muda, eles provavelmente irá acelerar seu passo e bater muitos recordes. "
"A mesma coisa está acontecendo com o nosso sistema climático. À medida que ele aquece, estamos tendo menos dias frios e eventos frios e eventos muito mais quentes."
A comissão é um painel independente de especialistas que emite relatórios em nome do governo, mas não está sujeito à sua administração ou fiscalização.
Pelo menos 123 registros meteorológicos bateram recordes durante o período de 90 dias analisado pelo relatório. Foram incluídos marcos como o verão mais quente já registrado, o dia mais quente para a Austrália como um todo e os sete dias consecutivos mais quentes já registrados. Para colocar isso em perspectiva, nos 102 anos desde que a Austrália começou a reunir registros nacionais, foram 21 dias em que o país teve em média a temperatura de 39 graus Celsius, e oito deles foram em 2013.
O autor do relatório, Will Steffen, disse que os resultados foram consistentes com uma aceleração global geral de fatores climáticos, como a elevação das temperaturas e chuvas mais pesadas atribuídas pelos cientistas para a mudança climática causada pelo homem.
"Ao longo dos últimos 50 anos, temos visto uma duplicação dos dias quentes recordes, estamos tendo temperaturas duas vezes mais quentes do que em meados do século 20", disse à ABC. "Na verdade, se você analisar a última década, estamos tendo três vezes mais dias muito quentes do que dias frios, e as estatísticas nos dizem, também, que há uma influência sobre eventos extremos - eles estão mudando. "
"Estatisticamente, há uma chance de 1 em 500 de que estamos falando sobre uma variação natural que esteja causando todos esses novos registros", disse Steffen, diretor do Instituto de Mudanças Climáticas da Universidade Nacional Australiana, ao The Sydney Morning Herald. "Muitas pessoas não estariam dispostas a colocarem todo seu dinheiro em um cavalo com chances 500-para-1."
Estudo tomou como base dados meteorológicos de 28 regiões do Paraná.
"Fique claro que são apenas simulações, não é o que vai acontecer, é o que pode acontecer. Assim a gente pode projetar o futuro", esclarece o pesquisador.
As alterações no clima foram simuladas por meio de um programa de computador criado durante a pesquisa, que tomou como base um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) das Nações Unidas, divulgado em 2007. A pesquisa aponta um aumento na temperatura entre 1,8°C a 4°C, no Paraná, com base na média global, para uma projeção para os próximos 90 anos. "Como é uma simulação, pode ser que essa mudança aconteça em diversas regiões do estado de forma diferente", conta Jorim.
Outra situação verificada no estudo é que a ocorrência de chuva pode
diminuir durante os anos, mas a quantidade pode aumentar em 10% do que
se vê hoje, por cada 1°C de aumento na temperatura. O professor explica
que "os problemas com enchentes podem ser ainda mais intensos. Por isso,
existe a projeção para servir agora como planejamento estratégico
urbano e regional no futuro".
Não é a primeira vez que este tipo de projeção climática é realizada no país. O professor explica que em 1997 ele foi "o pioneiro no Brasil a fazer um estudo de simulação por meio de um programa de computador". Jorim lembra que hoje existem apenas dois programas deste nível no país: um na UEPG e outro na Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais.
Mudanças podem alterar também a agropecuária
A pesquisa aponta possíveis mudanças nos setores agrícola e agropecuário. Jorim explica que, se a temperatura subir nesse nível, a agricultura terá de repensar o sistema de plantio. "Hoje isso já acontece. Em algumas localidades no norte do Paraná a cultura da soja, está sendo substituída pela cana-de-açúcar porque as condições climáticas agora estão mais favoráveis", afirma.
Outro alerta é para os produtores, que hoje não utilizam o sistema de irrigação artificial na propriedade. O pesquisador alega que "uma cidade como Ponta Grossa, por exemplo, que não necessita tanto de irrigação, no futuro, pode precisar por conta da falta de chuva por muito tempo identificada na projeção". Se a simulação se confirmar, os animais também podem sofrer com o calor, porque o metabolismo pode ser alterado. Preocupação também para as florestas, que correm mais risco de incêndios.
Solução e impacto econômico
O estudo agora está na última fase para a conclusão, que deve terminar até julho de 2013. A pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Maura Esperancini , calcula o impacto econômico no Paraná, caso as previsões se confirmem. A explicação do professor é que "o consumo de energia, por exemplo, pode aumentar por conta do uso de novas tecnologias, que vão suprir essas mudanças".
Apesar da pesquisa ser apenas uma simulação até 2100, os estudiosos já adiantam soluções para os problemas futuros. Uma possibilidade é utilizar as propriedades rurais para implantar sistemas energéticos alternativos como "fazendas eólicas" com torres que produzem energia através do vento. "Já existe até uma localidade em estudo, que é Ventania, nos Campos Gerais. O nome já explica que lá seria o lugar ideal para colocar essas torres", conta o professor. Ainda segundo Jorim, alguns produtores já aplicam sistemas de prevenção no Paraná, tanto para o trabalho nas lavouras quanto para prevenção de incêndios florestais.
A ideia principal da pesquisa é "mostrar o que pode ser feito em termos de planejamento regional do Paraná, aproveitar os recursos hídricos, mudar algumas culturas de investimento e ter um futuro repensado, ser autossustentável", conclui o pesquisador.
O próximo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima
(IPCC), órgão das Nações Unidas que representa a ciência nas discussões
sobre o tema, terá uma contribuição inédita brasileira. O Brasil vai
produzir um modelo de previsão climática global que poderá ser
incorporado ao portfólio internacional de modelos que o IPCC usa para
fazer suas projeções sobre o futuro do clima do planeta.
O trabalho de validação do modelo brasileiro já foi submetido a uma revista especializada e está em fase final de revisão para ser publicado, o que gabaritará o Brasil a submetê-lo para o IPCC. Com isso, o País se tornará o primeiro da América Latina e apenas o segundo do Hemisfério Sul a contribuir com modelos de mudança climática global para o painel, ao lado da Austrália.
Apesar de não ter ainda o mesmo grau de sofisticação dos modelos produzidos no Hemisfério Norte - principalmente nos Estados Unidos e na Europa -, o modelo brasileiro deverá trazer informações mais detalhadas sobre fenômenos tropicais importantes, que hoje são um ponto fraco dos modelos internacionais. Por exemplo, sobre fenômenos climáticos relacionados a variações de temperatura das águas do Atlântico Sul e ao desmatamento da Amazônia, do Cerrado ou de outros biomas brasileiros, que podem trazer consequências climáticas continentais ou até globais.
Segundo o pesquisador Paulo Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desenvolvimento do modelo, além de contribuir para o entendimento das mudanças climáticas globais, trará benefícios locais, com o aprimoramento da capacidade de previsão do tempo e da ocorrência de eventos climáticos extremos no Brasil - como as chuvas fortes que alagaram São Paulo nos últimos dias.
"Não há como fazer uma boa previsão do clima global se não tivermos modelos capazes de fazer uma ótima previsão do tempo local", afirma Nobre, que apresentou os primeiros resultados do modelo na terça-feira (19), numa reunião da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Entre eles, a constatação de que o desmatamento da Amazônia aumenta a ocorrência do fenômeno El Niño.
O modelo enviado para publicação, chamado Besm-OA 2.3 (sigla em inglês para Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre - Oceano-Atmosfera), vem sendo desenvolvido desde 2008 por uma força-tarefa de cientistas ligados ao Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, à Rede Clima do governo federal e ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas.
Todos utilizam o supercomputador Tupã, instalado no Centro de Ciências do Sistema Terrestre (CCST) do Inpe, necessário para rodar toda a matemática por trás das previsões. A máquina custou R$ 50 milhões, pagos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) e pela Fapesp.
Capacitação
A opção de desenvolver um modelo próprio, em vez de adaptar um modelo já pronto de outro país, foi uma decisão estratégica com o intuito de formar uma nova geração de pesquisadores e capacitar o Brasil a produzir ciência de qualidade nessa área, segundo o pesquisador Carlos Nobre (irmão de Paulo), que foi um dos idealizadores do programa e hoje é secretário de Políticas e Programas de Pesquisa do MCTI. "É um esforço de desenvolvimento de competência", disse.
Só a Rede Clima, por exemplo, já formou 74 mestres, doutores e pós-doutores em 5 anos e tem outros 184 em formação, com um investimento de R$ 4,7 milhões do CNPq. Resultado: 127 trabalhos já publicados em revistas internacionais e 72, em periódicos nacionais. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
Uma onda de calor de quatro meses durante o verão australiano culminou em janeiro em queimadas que destruíram partes das costas leste e sudeste do país, onde a vive a maioria dos australianos. Essas temperaturas que bateram recordes foram acompanhadas por chuvas torrenciais e inundações nos Estados mais populosos de Nova Gales do Sul e Queensland, que deixaram pelo menos seis mortos e causaram cerca de US$ 2,43 bilhões em danos ao longo da costa leste.
Leia mais: Austrália admite negligência na proteção da Grande Barreira de Corais
Os cientistas do clima têm evitado vincular eventos climáticos individuais diretamente às mudanças climáticas. Cientistas australianos, em particular, têm sido cautelosos para ligar os dois, em parte porque o país está sempre passando por ciclos de seca e inundações das chuvas, que já são extremas quando comparadas com grande parte do resto do mundo. Mas o relatório da Comissão do Clima, com o título "O Verão Zangado", argumenta que a frequência e a ferocidade dos recentes eventos climáticos extremos indicam uma aceleração que é pouco provável de diminuir, a menos que medidas sérias sejam tomadas para evitar futuras alterações ao meio ambiente do planeta.
"Eu acho que uma das melhores maneiras de pensar sobre isso é imaginar que a linha de base mudou", Tim Flannery, líder da comissão, disse à Australian Broadcasting Corp "Se um atleta toma esteróides, por exemplo, sua linha de base muda, eles provavelmente irá acelerar seu passo e bater muitos recordes. "
"A mesma coisa está acontecendo com o nosso sistema climático. À medida que ele aquece, estamos tendo menos dias frios e eventos frios e eventos muito mais quentes."
A comissão é um painel independente de especialistas que emite relatórios em nome do governo, mas não está sujeito à sua administração ou fiscalização.
Pelo menos 123 registros meteorológicos bateram recordes durante o período de 90 dias analisado pelo relatório. Foram incluídos marcos como o verão mais quente já registrado, o dia mais quente para a Austrália como um todo e os sete dias consecutivos mais quentes já registrados. Para colocar isso em perspectiva, nos 102 anos desde que a Austrália começou a reunir registros nacionais, foram 21 dias em que o país teve em média a temperatura de 39 graus Celsius, e oito deles foram em 2013.
O autor do relatório, Will Steffen, disse que os resultados foram consistentes com uma aceleração global geral de fatores climáticos, como a elevação das temperaturas e chuvas mais pesadas atribuídas pelos cientistas para a mudança climática causada pelo homem.
"Ao longo dos últimos 50 anos, temos visto uma duplicação dos dias quentes recordes, estamos tendo temperaturas duas vezes mais quentes do que em meados do século 20", disse à ABC. "Na verdade, se você analisar a última década, estamos tendo três vezes mais dias muito quentes do que dias frios, e as estatísticas nos dizem, também, que há uma influência sobre eventos extremos - eles estão mudando. "
"Estatisticamente, há uma chance de 1 em 500 de que estamos falando sobre uma variação natural que esteja causando todos esses novos registros", disse Steffen, diretor do Instituto de Mudanças Climáticas da Universidade Nacional Australiana, ao The Sydney Morning Herald. "Muitas pessoas não estariam dispostas a colocarem todo seu dinheiro em um cavalo com chances 500-para-1."
•
• atualizado às 05h18
Relatório atribui "verão furioso" australiano à mudança climática global
O
clima na Austrália, que no verão austral 2012/13 registrou temperaturas
extremas, se mostrou agravado pelos efeitos da mudança climática
global, informou a Comissão de Mudança Climática - uma entidade ligada
ao governo - através de um relatório divulgado nesta segunda-feira.
Intitulado Verão Furioso, o documento indica
que as temperaturas extremas, as inundações e os incêndios florestais
que foram registrados no verão de 2012/13 na Austrália foram claramente
agravados pela mudança climática.
"Todo evento climático extremo que ocorre no sistema
climático é mais quente e úmido do que há 50 anos", aponta o relatório,
que destaca que 123 recordes foram quebrados nos 90 dias de verão na
Austrália.
Entre os recordes registrados por este relatório, que
adverte sobre o perigo dessa tendência, se conta o verão mais caloroso; o
dia mais quente no país, que foi de 40,3 graus no dia 7 de janeiro, e o
mês de janeiro mais quente, entre outros.
O relatório assinala que os estados de Queensland e Nova
Gales do Sul, situados no litoral leste do país oceânico, tiveram
muitos dias de chuva na última temporada, enquanto os de Victoria e
Austrália do Sul registraram o verão mais seco em décadas.
"Nos últimos 50 anos vimos que se duplicaram os recorde
de dias mais calorosos, temos o dobro dos recordes de climas calorosos
do que se registrou em meados de século XX ", ressaltou um dos autores
do relatório, Will Stefen, à emissora ABC.
09/03/2013 08h47
- Atualizado em
12/03/2013 20h22
Pesquisa simula mudanças no clima do Paraná até o ano de 2100
Estudo tomou como base dados meteorológicos de 28 regiões do Paraná.
Se a projeção se confirmar, a temperatura no estado pode subir até 4°C.
Estudo durou três anos, segundo o professor
(Foto: Arquivo pessoal)
Uma pesquisa elaborada pelo professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Jorim Souza das Virgens Filho, simulou diversas mudanças no clima do Paraná
até o ano de 2100. O estudo é resultado de três anos de pesquisa, que
tomou como base 28 regiões do estado. A previsão mostra possíveis
alterações, durante esses anos, como o aumento da temperatura, chuva de
maior intensidade, além de problemas na agropecuária.(Foto: Arquivo pessoal)
"Fique claro que são apenas simulações, não é o que vai acontecer, é o que pode acontecer. Assim a gente pode projetar o futuro", esclarece o pesquisador.
As alterações no clima foram simuladas por meio de um programa de computador criado durante a pesquisa, que tomou como base um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) das Nações Unidas, divulgado em 2007. A pesquisa aponta um aumento na temperatura entre 1,8°C a 4°C, no Paraná, com base na média global, para uma projeção para os próximos 90 anos. "Como é uma simulação, pode ser que essa mudança aconteça em diversas regiões do estado de forma diferente", conta Jorim.
Fique claro que são apenas simulações, não é o que vai acontecer, é o que pode acontecer"
Jorim Souza Filho, professor
Não é a primeira vez que este tipo de projeção climática é realizada no país. O professor explica que em 1997 ele foi "o pioneiro no Brasil a fazer um estudo de simulação por meio de um programa de computador". Jorim lembra que hoje existem apenas dois programas deste nível no país: um na UEPG e outro na Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais.
Mudanças podem alterar também a agropecuária
A pesquisa aponta possíveis mudanças nos setores agrícola e agropecuário. Jorim explica que, se a temperatura subir nesse nível, a agricultura terá de repensar o sistema de plantio. "Hoje isso já acontece. Em algumas localidades no norte do Paraná a cultura da soja, está sendo substituída pela cana-de-açúcar porque as condições climáticas agora estão mais favoráveis", afirma.
Outro alerta é para os produtores, que hoje não utilizam o sistema de irrigação artificial na propriedade. O pesquisador alega que "uma cidade como Ponta Grossa, por exemplo, que não necessita tanto de irrigação, no futuro, pode precisar por conta da falta de chuva por muito tempo identificada na projeção". Se a simulação se confirmar, os animais também podem sofrer com o calor, porque o metabolismo pode ser alterado. Preocupação também para as florestas, que correm mais risco de incêndios.
Solução e impacto econômico
O estudo agora está na última fase para a conclusão, que deve terminar até julho de 2013. A pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Maura Esperancini , calcula o impacto econômico no Paraná, caso as previsões se confirmem. A explicação do professor é que "o consumo de energia, por exemplo, pode aumentar por conta do uso de novas tecnologias, que vão suprir essas mudanças".
Apesar da pesquisa ser apenas uma simulação até 2100, os estudiosos já adiantam soluções para os problemas futuros. Uma possibilidade é utilizar as propriedades rurais para implantar sistemas energéticos alternativos como "fazendas eólicas" com torres que produzem energia através do vento. "Já existe até uma localidade em estudo, que é Ventania, nos Campos Gerais. O nome já explica que lá seria o lugar ideal para colocar essas torres", conta o professor. Ainda segundo Jorim, alguns produtores já aplicam sistemas de prevenção no Paraná, tanto para o trabalho nas lavouras quanto para prevenção de incêndios florestais.
A ideia principal da pesquisa é "mostrar o que pode ser feito em termos de planejamento regional do Paraná, aproveitar os recursos hídricos, mudar algumas culturas de investimento e ter um futuro repensado, ser autossustentável", conclui o pesquisador.
Qua
, 20/02/2013 às 08:40
País produz 1º modelo de clima global para a ONU
Herton Escobar | Agência Estado
O trabalho de validação do modelo brasileiro já foi submetido a uma revista especializada e está em fase final de revisão para ser publicado, o que gabaritará o Brasil a submetê-lo para o IPCC. Com isso, o País se tornará o primeiro da América Latina e apenas o segundo do Hemisfério Sul a contribuir com modelos de mudança climática global para o painel, ao lado da Austrália.
Apesar de não ter ainda o mesmo grau de sofisticação dos modelos produzidos no Hemisfério Norte - principalmente nos Estados Unidos e na Europa -, o modelo brasileiro deverá trazer informações mais detalhadas sobre fenômenos tropicais importantes, que hoje são um ponto fraco dos modelos internacionais. Por exemplo, sobre fenômenos climáticos relacionados a variações de temperatura das águas do Atlântico Sul e ao desmatamento da Amazônia, do Cerrado ou de outros biomas brasileiros, que podem trazer consequências climáticas continentais ou até globais.
Segundo o pesquisador Paulo Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desenvolvimento do modelo, além de contribuir para o entendimento das mudanças climáticas globais, trará benefícios locais, com o aprimoramento da capacidade de previsão do tempo e da ocorrência de eventos climáticos extremos no Brasil - como as chuvas fortes que alagaram São Paulo nos últimos dias.
"Não há como fazer uma boa previsão do clima global se não tivermos modelos capazes de fazer uma ótima previsão do tempo local", afirma Nobre, que apresentou os primeiros resultados do modelo na terça-feira (19), numa reunião da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Entre eles, a constatação de que o desmatamento da Amazônia aumenta a ocorrência do fenômeno El Niño.
O modelo enviado para publicação, chamado Besm-OA 2.3 (sigla em inglês para Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre - Oceano-Atmosfera), vem sendo desenvolvido desde 2008 por uma força-tarefa de cientistas ligados ao Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, à Rede Clima do governo federal e ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas.
Todos utilizam o supercomputador Tupã, instalado no Centro de Ciências do Sistema Terrestre (CCST) do Inpe, necessário para rodar toda a matemática por trás das previsões. A máquina custou R$ 50 milhões, pagos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) e pela Fapesp.
Capacitação
A opção de desenvolver um modelo próprio, em vez de adaptar um modelo já pronto de outro país, foi uma decisão estratégica com o intuito de formar uma nova geração de pesquisadores e capacitar o Brasil a produzir ciência de qualidade nessa área, segundo o pesquisador Carlos Nobre (irmão de Paulo), que foi um dos idealizadores do programa e hoje é secretário de Políticas e Programas de Pesquisa do MCTI. "É um esforço de desenvolvimento de competência", disse.
Só a Rede Clima, por exemplo, já formou 74 mestres, doutores e pós-doutores em 5 anos e tem outros 184 em formação, com um investimento de R$ 4,7 milhões do CNPq. Resultado: 127 trabalhos já publicados em revistas internacionais e 72, em periódicos nacionais. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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