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quarta-feira, 8 de maio de 2013

AVANÇOS DO BRASIL NO COMBATE AO AQUECIMENTO GLOBAL

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Cientista do IPCC vê avanços do Brasil no combate ao aquecimento global

por mthus publicado 26/02/2013 20:33, última modificação 27/02/2013 19:43

Floresta amazônica em foto de satélite da Nasa (©nasa.com)
Rio de Janeiro – Coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente da COPPE/UFRJ, membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) e coordenador científico do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), Emilio La Rovere elogiou o cumprimento das metas de redução do desmatamento e das emissões de gases de efeito estufa por parte do governo brasileiro. O cientista fez ontem (26), em palestra realizada no Museu do Meio Ambiente, localizado no Instituto Jardim Botânico do Rio de Janeiro, um balanço dos avanços obtidos pelo Brasil no combate ao aquecimento global. Ele também falou sobre o atual estágio de desenvolvimento do PBMC, criado em julho de 2010 durante a Semana Nacional de Ciência, Tecnologia.
Para La Rovere, “o Brasil se comprometeu em 2009 com uma série de objetivos voluntários fortemente baseados na redução do desmatamento. Até agora temos sido exitosos. Por sua vez, a Plataforma de Durban, definida em 2011, prevê uma nova rodada de negociações e provavelmente teremos objetivos de todos os países para o horizonte depois de 2030. Até 2020, em todo caso, nossas emissões devem estar dentro dos compromissos voluntários assumidos”, diz.
Ele também falou sobre os principais pontos comumente considerados fatores de risco para o aumento das emissões no Brasil, como a exploração do pré-sal, o desrespeito ao Código Florestal e seu conseqüente aumento do desmatamento e a construção de usinas hidrelétricas na Amazônia.
“Até agora, as intenções anunciadas pelo governo brasileiro em relação ao pré-sal parecem bastante razoáveis para não cairmos na maldição dos países ricos em petróleo de manter preços muito baixos internamente e com isso aumentar fortemente o consumo. Mas não foi o que a gente viu na prática no ano passado. O governo sucumbiu à tentação de manter o preço da gasolina artificialmente baixo para com isso segurar a taxa de inflação. O discurso oficial é fazer com que os preços internos do petróleo acompanhem os preços internacionais, mas a prática é outra, o que me deixa preocupado. A inflação não foi segurada e a Petrobras quebrou. Esse foi o resultado dessa política, que eu espero que seja revista”, diz o cientista.
Em relação às florestas, La Rovere dá um voto de confiança ao novo Código Florestal: “Nós tínhamos um Código Florestal ótimo. O problema é que não era aplicado. Agora temos um Código Florestal que não é tão bom quanto antes, mas, se for respeitado e bem aplicado, a situação pode não ficar tão ruim assim”, diz. Ele ressalta o fato de que o desmatamento vem caindo no país: “Um estudo da PUC-RJ mostra que metade da redução do desmatamento pode ser atribuída à aplicação de políticas públicas. Entre elas, o fundamental foi a restrição de crédito a quem não tem título de posse e licença ambiental. O novo Código Florestal não vai ser o obstáculo mais importante para a gente superar”, diz.
La Rovere também defende a construção de algumas usinas hidrelétricas na Amazônia, desde que ambientalmente sustentáveis: “O desmatamento provocado pela área inundada não é tão importante quanto o causado pela pecuária ou pela soja. Há as emissões de metano da área inundada, mas não temos conhecimento científico pra criar um fator de medição. Em todo caso, as hidrelétricas emitem muito menos gases de efeito estufa do que as termelétricas, mesmo as de gás natural, que poluem menos. O IPCC e a Convenção do Clima consideram zero a emissão de hidrelétricas”.
Ele reconhece que “hidrelétricas têm impactos sociais e ambientais muito expressivos, particularmente na região da Amazônia, onde há uma série de ecossistemas que são muito frágeis”, mas defende essa opção: “Obviamente, se não fizermos hidrelétricas na Amazônia vamos ter que fazer termelétricas, já que não vejo a energia nuclear como uma grande possibilidade no Brasil devido a uma série de problemas, como custos e segurança. Temos outras fontes, como a eólica e a solar, que são intermitentes”, diz.
“Uma coisa é ter uma posição ideológica contrária às hidrelétricas na Amazônia. Outra coisa é você verificar que tudo tem prós e contras. Acho que a gente pode e deve fazer algumas hidrelétricas na Amazônia, mas de uma forma completamente diferente do que estamos fazendo até agora. É viável hidrelétricas que mereçam o adjetivo de sustentável, mas teremos que fazer diferente, não poderemos fazer em áreas de floresta virgem uma estrada de acesso e um canteiro de obras. Não podemos repetir erros do passado. Balbina e Tucuruí são exemplos de como não se deve fazer uma hidrelétrica”, acrescenta La Rovere, que vê as usinas de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte em um estágio mais avançado em termos ambientais do que as usinas mais antigas.

Novo relatório do IPCC

Emilio La Rovere confirmou também que um novo relatório do IPCC será divulgado no fim de 2014. Será o quinto relatório de avaliação elaborado pelo painel de cientistas da ONU, eu já havia divulgado outros em 1990, 1996, 2001 e 2007: “Trata-se do primeiro relatório que a gente coloca em consulta pública. Obtivemos pouquíssimos comentários, mas é um primeiro passo para criar essa cultura”, diz.
O relatório, segundo o brasileiro, já teve várias versões, entre comentários dos governos, agências internacionais e cientistas. Ao final desse processo, deverá ser aprovado pela plenária do IPCC o Sumário Técnico Executivo a ser encaminhado aos tomadores de decisão: “O relatório precisa ser aprovado por representantes dos 196 países. Aí, já é o mundo da política. Ficamos uma semana discutindo as palavras que tem que constar. Imaginem, por exemplo, Estados Unidos, Rússia, Brasil, China e Arábia Saudita na mesma sala, os interesses afetados são grandes. Conseguir esse sumário de tomadas de decisões já é um documento resultante desse diálogo. É um sumário técnico, mas submetido às decisões políticas. No resultado final, a gente busca chegar a uma mensagem que reflita da melhor forma essa visão resultante de uma pluralidade de perspectivas”.
Um novo alerta será dado aos governantes: “As emissões estão crescendo, e não dá para baixarem abruptamente em nível mundial. Mas, elas têm que começar primeiro a ter sua velocidade de crescimento diminuída. Para estabilizar o aquecimento global em dois graus, as emissões têm que cair bastante mais rapidamente do que estamos conseguindo fazer. A estimativa de dois graus não é científica, é política. Os cientistas não podem dizer com exatidão, mas sabemos que será algo entre um e cinco graus”
La Rovere espera que a mudança de postura do governo dos Estados Unidos fortaleça ainda mais o IPCC: “A aposta no desenvolvimento de novas tecnologias foi utilizada como álibi no governo Bush para que o país ignorasse as negociações climáticas internacionais. A orientação do governo Obama é bem diferente. Parece que agora, no segundo mandato, ele vai aprofundar o que pode ser feito em nível doméstico. A decisão da Suprema Corte dos EUA de incluir a questão climática como assunto de interesse para a saúde do povo americano forneceu instrumentos ao Executivo, que independem da posição do Congresso, para colocar limites das emissões em indústrias e veículos de uma forma mais consistente. Parece que isso vai ser aprofundado no segundo mandato de Obama e é uma boa notícia para o mundo”.

Apoio do governo

Em relação ao apoio do governo brasileiro ao PBMC, o cientista faz um balanço positivo dos últimos dez anos: “Houve apoio lento, mas a gente viu. A reforma da reforma do setor elétrico foi positiva, apesar dos pesares, já que me parecia totalmente sufocado o modelo anterior, adotado no governo FHC, de privatizar o setor elétrico com base na receita britânica totalmente inadequada para um país que tem base hidrelétrica”, diz.
Em termos de pesquisa, ele cita a recente regulação do setor de energia, aprovada em abril do ano passado pela Aneel, que abre a rede para os smart-grids, onde o produtor independente pode jogar energia da rede: “Foi um ganho muito grande para o desenvolvimento da energia solar. O que foi feito em gás natural também foi importante, e pode ser visto como solução de transição, já que é melhor usar gás natural do que óleo combustível. Mesmo com muito atraso, também houve um grande ganho em energia eólica”, diz.
Mas, nem tudo são flores na avaliação do cientista: “O que está claudicante, incrivelmente, é o etanol de cana-de-açúcar. Não podemos deixar o Pró-Álcool, que foi um ganho muito grande pelo qual o Brasil é admirado no mundo todo. Mesmo com problemas na cadeia de produção, o balanço como um todo é positivo. Agora, essa política suicida de conter preço da gasolina só faz enterrar o etanol de cana. Para mim, é incompreensível que a presidente Dilma, que é da área de energia, tenha feito esse descalabro”.

PBMC

O PBMC tem quatro grupos de trabalho que atuam em ordem cronológica. O GT 3, que está sendo elaborado agora e trata efetivamente da mitigação às mudanças climáticas, é coordenado por La Rovere e por Mercedes Bustamante, da UnB. Seus temas estruturantes, segundo La Rovere, são: “Os riscos e incertezas para se formular uma política de resposta às mudanças climáticas e a preocupação com a equidade, afinal, quem vai pagar o ônus de enfrentar as mudanças climáticas?”, indaga. Outros temas são: as tendências, fatores dominantes e forças motrizes do aquecimento global; o detalhamento setorial, com cenários para o futuro em setores como geração de energia, transporte, edificações, indústria e agricultura, as mudanças nas principais fontes de emissão no Brasil, e os recursos financeiros e políticos para enfrentar o problema.
As principais conclusões do PBMC, adianta La Rovere, serão: a quase impossibilidade de estabilização da temperatura em apenas 2 graus acima do nível pré-Revolução Industrial; a viabilidade de se alcançar os objetivos voluntários de redução das emissões já aprovada pelo governo brasileiro até 2020, graças ao êxito das ações de combate ao desmatamento; a tendência de retomada das emissões após 2020, puxada pelo crescimento econômico do país.

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