Mudanças climáticas: Brasil tem dois cenários preocupantes
Celina Aquino -
Publicação: 04/02/2013 09:14 Atualização: 04/02/2013 10:03
O Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) desenvolveu dois
cenários de mudanças climáticas para todas as regiões do Brasil até o
fim do século 21: um mostra a realidade caso as emissões dos gases do
efeito estufa continuem altas e o outro prevê o que ocorrerá em caso de
redução. (Veja mapa, que também pode ser acessado pelo link http://www.ccst.inpe.br/sumario-mud-clima.)
O pesquisador titular do CCST, Jean Ometto, ressalta que o aquecimento global e as mudanças climáticas são um problema particularmente preocupante para o Brasil.
“O gelo vai derreter com o calor e haverá possibilidade real de alteração no nível do mar. Muitas cidades litorâneas podem sofrer com isso em época de ressaca”, cita. Por outro lado, se o padrão de chuvas mudar, a produção de energia, que vem essencialmente de usinas hidrelétricas, ficará prejudicada. As alterações do clima também poderão trazer prejuízos para a produção agropecuária, que ainda é a base da economia brasileira.
Ometto explica que o aquecimento global se manifesta a partir do acúmulo de gases vindos, essencialmente, da queima de combustíveis fósseis e biomassa (tudo que tem vida) na atmosfera. Isso aumenta a espessura da camada que envolve a Terra, fazendo com que a energia fique retida embaixo. “Céticos dizem que uma coisa não está necessariamente ligada à outra, mas a grande maioria acredita que o processo de aquecimento pode interferir nos padrões climáticos. Os meteorologistas defendem que o calor muda a termodinâmica da atmosfera”, esclarece o pesquisador do Inpe. As emissões dos gases do efeito estufa tendem a acelerar o processo.
A boa notícia é que as emissões brasileiras diminuíram desde 2004. Ometto revela que a redução está associada à biomassa, já que em oito anos o desmatamento da Amazônia caiu quase 70%. O balanço é positivo mesmo com o aumento da queima de combustíveis fósseis, que tem ligação com o crescimento da frota, uso majoritário de transporte de carga por caminhão (alimentado por diesel) e o desenvolvimento industrial. “A incerteza é muito alta. Há estudos dizendo que o calor vai aumentar e o que se espera com as negociações internacionais é que as emissões se limitem a tal ponto que, até 2050, a temperatura não suba dois graus acima da marca de 1750, quando começa a medição”, diz. No último século, já houve um aumento de 1 grau.
Para chegar lá, o pesquisador do Inpe acredita que é preciso haver mais conhecimento científico e vontade política. Além disso, deve-se contar com a colaboração da população, que pode ajudar a administração pública a buscar o uso racional dos recursos naturais.
Enquanto isso...
...Minas não quer ficar para trás
Em dezembro, o governador Antonio Anastasia (PSDB) enviou à Assembleia Legislativa um projeto de lei que institui a Política de Mudança do Clima do Estado de Minas Gerais (PMCE). “A proposta foi construída de forma democrática, junto com os setores produtivos, e estabelece compromissos de caráter voluntário para que as metas sejam atingidas”, adianta o gerente de energia e mudanças climáticas da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), Felipe Santos de Miranda Nunes. “Isso vai dar maior força aos trabalhos que estão sendo executados”, diz ele. O PL ainda não foi avaliado pelos parlamentares mineiros.
Celina Aquino -
Publicação: 04/02/2013 09:14 Atualização: 04/02/2013 10:03
O pesquisador titular do CCST, Jean Ometto, ressalta que o aquecimento global e as mudanças climáticas são um problema particularmente preocupante para o Brasil.
“O gelo vai derreter com o calor e haverá possibilidade real de alteração no nível do mar. Muitas cidades litorâneas podem sofrer com isso em época de ressaca”, cita. Por outro lado, se o padrão de chuvas mudar, a produção de energia, que vem essencialmente de usinas hidrelétricas, ficará prejudicada. As alterações do clima também poderão trazer prejuízos para a produção agropecuária, que ainda é a base da economia brasileira.
Ometto explica que o aquecimento global se manifesta a partir do acúmulo de gases vindos, essencialmente, da queima de combustíveis fósseis e biomassa (tudo que tem vida) na atmosfera. Isso aumenta a espessura da camada que envolve a Terra, fazendo com que a energia fique retida embaixo. “Céticos dizem que uma coisa não está necessariamente ligada à outra, mas a grande maioria acredita que o processo de aquecimento pode interferir nos padrões climáticos. Os meteorologistas defendem que o calor muda a termodinâmica da atmosfera”, esclarece o pesquisador do Inpe. As emissões dos gases do efeito estufa tendem a acelerar o processo.
A boa notícia é que as emissões brasileiras diminuíram desde 2004. Ometto revela que a redução está associada à biomassa, já que em oito anos o desmatamento da Amazônia caiu quase 70%. O balanço é positivo mesmo com o aumento da queima de combustíveis fósseis, que tem ligação com o crescimento da frota, uso majoritário de transporte de carga por caminhão (alimentado por diesel) e o desenvolvimento industrial. “A incerteza é muito alta. Há estudos dizendo que o calor vai aumentar e o que se espera com as negociações internacionais é que as emissões se limitem a tal ponto que, até 2050, a temperatura não suba dois graus acima da marca de 1750, quando começa a medição”, diz. No último século, já houve um aumento de 1 grau.
Para chegar lá, o pesquisador do Inpe acredita que é preciso haver mais conhecimento científico e vontade política. Além disso, deve-se contar com a colaboração da população, que pode ajudar a administração pública a buscar o uso racional dos recursos naturais.
Enquanto isso...
...Minas não quer ficar para trás
Em dezembro, o governador Antonio Anastasia (PSDB) enviou à Assembleia Legislativa um projeto de lei que institui a Política de Mudança do Clima do Estado de Minas Gerais (PMCE). “A proposta foi construída de forma democrática, junto com os setores produtivos, e estabelece compromissos de caráter voluntário para que as metas sejam atingidas”, adianta o gerente de energia e mudanças climáticas da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), Felipe Santos de Miranda Nunes. “Isso vai dar maior força aos trabalhos que estão sendo executados”, diz ele. O PL ainda não foi avaliado pelos parlamentares mineiros.
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• atualizado às 16h28
Mudanças climáticas ameaçam a vida nos oceanos
O
aumento de gases poluentes na atmosfera, principalmente o dióxido de
carbono (CO2) gerado pela atividade humana, contribui para o aquecimento
e a acidificação dos oceanos, ameaçando os ecossistemas aquáticos.
O Futurando desta semana mostra uma reportagem sobre o aumento da poluição sonora nos oceanos e mares causada pelo homem. Pesquisadores tentam desenvolver novas tecnologias para minimizar o problema, no entanto, esse é apenas um dos fatores que colocam em risco a vida aquática. Entre eles, há outros dois que são imperceptíveis à maioria das pessoas, mas que também representam uma grande ameaça: a acidificação e o aquecimento dos oceanos, ambos caudados pela emissão excessiva de dióxido de carbono (CO2).
Assim como a pesca predatória, o descarte de lixo, os vazamentos de produtos químicos, entre outros, o aumento na acidez e elevação da temperatura da água também resulta da ação humana. Mas nesse caso, de forma indireta, porque esses fenômenos ocorrem devido às mudanças climáticas – em parte pelo acúmulo de CO2 na atmosfera.
Aquecimento
A industrialização trouxe muitos benefícios para humanidade, mas também problemas, entre eles, a emissão de gases poluentes. Estes retêm o calor irradiado pela superfície da terra, potencializando o aquecimento global e, consequentemente, da água dos oceanos. Na realidade, esse processo é natural e mantém a face da terra aquecida, no entanto, o excesso desses gases aumenta o calor retido e desequilibra o meio ambiente.
O principal gás gerado é o CO2. Na era glacial sua concentração na atmosfera era de aproximadamente 200 ppm (partes por milhão), antes da Revolução Industrial era de 285 ppm e, hoje em dia, chega a 390 ppm em algumas regiões do planeta.
O oceano absorve por volta de 93% do aquecimento global, amenizando os efeitos em terra firme. Mesmo assim a temperatura no mar aumentou 0,4 ºC desde 1950.
Isso causa um fenômeno chamado de estratificação – as camadas superiores de água não afundam e não se misturam com as inferiores – e assim não há uma circulação de nutrientes, afetando a vida marinha como um todo.
Acidificação
Os mares e oceanos colaboram com o meio ambiente emitindo oxigênio e absorvendo cerca de 30% dos gases de efeito estufa no mundo. Por um lado, isso é um processo normal, já que o acúmulo de dióxido de carbono na água retarda o processo de aquecimento, mas o excesso de CO2 deixa a água muito ácida. E é isso que está acontecendo devido ao aumento da emissão desse gás na atividade industrial, na geração de energia, queimadas, etc. Nesse processo, o CO2 se dissolve na água, diminuindo o pH. A acidez impede que pequenos organismos se reproduzam e assim começa a afetar toda a cadeia alimentar aquática. Antes da era industrial o pH médio era de 8,2 e hoje é de 8,1. Uma diferença pequena, mas que já pode ser sentida por algumas formas de vida.
Além disso, o professor de biologia marinha, Jason Hall-Spencer, da Universidade de Plymouth no Reino Unido, identificou mais um agente potencializador da acidificação nos oceanos. Ele afirma que os gases vulcânicos subaquáticos também têm grande influência no aumento da acidez da água. Nos locais mais próximos à erupção do gás, o pH da água pode chegar a 7,4.
Nesse ritmo, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), estima que as águas dos oceanos poderão estar 150% mais ácidas em 2100. Mas as cadeias alimentares sofreriam grandes impactos antes disso. A começar pelo recife de coral, que é um dos ecossistemas biologicamente mais ricos e produtivos do planeta. De acordo com a Unesco, 75% dos recifes estão ameaçados pelas mudanças climáticas, incluindo a acidez e o aquecimento da água. E se não houver nenhuma ação corretiva, quase todos estarão em risco até 2050.
Os estudos mostram que tanto a diminuição no pH dos oceanos quanto a elevação da temperatura da água são fatores que alteram lentamente o mundo aquático e apesar de não atingirem grandes espécies diretamente, em princípio, toda a vida marinha está ameaçada. Isso porque cada organismo vivo faz parte da cadeia alimentar, por consequência, pequenos e grandes peixes morreriam, assim como os mamíferos aquáticos também.
Apesar das muitas pesquisas, as conclusões apontam para a mesma direção: é necessário diminuir a emissão de gases poluentes. Esse tema tem sido debatido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Criado em 1997, muitos países industrializados ratificaram o Protocolo de Kyoto, que entre outras determinações, visava à redução de emissão de CO2. Mas ainda há muita discussão a respeito, pois países como os EUA, um dos maiores poluidores do planeta, não assinaram o documento. Já na Rio+20 – Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – realizada em 2012, prefeitos das principais cidades do mundo se comprometeram a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 1,3 bilhão de toneladas até 2030.
O Futurando desta semana mostra uma reportagem sobre o aumento da poluição sonora nos oceanos e mares causada pelo homem. Pesquisadores tentam desenvolver novas tecnologias para minimizar o problema, no entanto, esse é apenas um dos fatores que colocam em risco a vida aquática. Entre eles, há outros dois que são imperceptíveis à maioria das pessoas, mas que também representam uma grande ameaça: a acidificação e o aquecimento dos oceanos, ambos caudados pela emissão excessiva de dióxido de carbono (CO2).
Assim como a pesca predatória, o descarte de lixo, os vazamentos de produtos químicos, entre outros, o aumento na acidez e elevação da temperatura da água também resulta da ação humana. Mas nesse caso, de forma indireta, porque esses fenômenos ocorrem devido às mudanças climáticas – em parte pelo acúmulo de CO2 na atmosfera.
Aquecimento
A industrialização trouxe muitos benefícios para humanidade, mas também problemas, entre eles, a emissão de gases poluentes. Estes retêm o calor irradiado pela superfície da terra, potencializando o aquecimento global e, consequentemente, da água dos oceanos. Na realidade, esse processo é natural e mantém a face da terra aquecida, no entanto, o excesso desses gases aumenta o calor retido e desequilibra o meio ambiente.
O principal gás gerado é o CO2. Na era glacial sua concentração na atmosfera era de aproximadamente 200 ppm (partes por milhão), antes da Revolução Industrial era de 285 ppm e, hoje em dia, chega a 390 ppm em algumas regiões do planeta.
O oceano absorve por volta de 93% do aquecimento global, amenizando os efeitos em terra firme. Mesmo assim a temperatura no mar aumentou 0,4 ºC desde 1950.
Isso causa um fenômeno chamado de estratificação – as camadas superiores de água não afundam e não se misturam com as inferiores – e assim não há uma circulação de nutrientes, afetando a vida marinha como um todo.
Acidificação
Os mares e oceanos colaboram com o meio ambiente emitindo oxigênio e absorvendo cerca de 30% dos gases de efeito estufa no mundo. Por um lado, isso é um processo normal, já que o acúmulo de dióxido de carbono na água retarda o processo de aquecimento, mas o excesso de CO2 deixa a água muito ácida. E é isso que está acontecendo devido ao aumento da emissão desse gás na atividade industrial, na geração de energia, queimadas, etc. Nesse processo, o CO2 se dissolve na água, diminuindo o pH. A acidez impede que pequenos organismos se reproduzam e assim começa a afetar toda a cadeia alimentar aquática. Antes da era industrial o pH médio era de 8,2 e hoje é de 8,1. Uma diferença pequena, mas que já pode ser sentida por algumas formas de vida.
Além disso, o professor de biologia marinha, Jason Hall-Spencer, da Universidade de Plymouth no Reino Unido, identificou mais um agente potencializador da acidificação nos oceanos. Ele afirma que os gases vulcânicos subaquáticos também têm grande influência no aumento da acidez da água. Nos locais mais próximos à erupção do gás, o pH da água pode chegar a 7,4.
Nesse ritmo, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), estima que as águas dos oceanos poderão estar 150% mais ácidas em 2100. Mas as cadeias alimentares sofreriam grandes impactos antes disso. A começar pelo recife de coral, que é um dos ecossistemas biologicamente mais ricos e produtivos do planeta. De acordo com a Unesco, 75% dos recifes estão ameaçados pelas mudanças climáticas, incluindo a acidez e o aquecimento da água. E se não houver nenhuma ação corretiva, quase todos estarão em risco até 2050.
Os estudos mostram que tanto a diminuição no pH dos oceanos quanto a elevação da temperatura da água são fatores que alteram lentamente o mundo aquático e apesar de não atingirem grandes espécies diretamente, em princípio, toda a vida marinha está ameaçada. Isso porque cada organismo vivo faz parte da cadeia alimentar, por consequência, pequenos e grandes peixes morreriam, assim como os mamíferos aquáticos também.
Apesar das muitas pesquisas, as conclusões apontam para a mesma direção: é necessário diminuir a emissão de gases poluentes. Esse tema tem sido debatido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Criado em 1997, muitos países industrializados ratificaram o Protocolo de Kyoto, que entre outras determinações, visava à redução de emissão de CO2. Mas ainda há muita discussão a respeito, pois países como os EUA, um dos maiores poluidores do planeta, não assinaram o documento. Já na Rio+20 – Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – realizada em 2012, prefeitos das principais cidades do mundo se comprometeram a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 1,3 bilhão de toneladas até 2030.
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